Meio ambiente é a questão política do nosso século. Governos de direita neoliberais, como os dos PSDB, representantes do capital, impõem e batem. Governos de esquerda, que tentam conciliar interesses e atender a todos, negociam. A posição que representa uma política de acordo com os novos tempos é considerar que o futuro da humanidade e o bem-estar coletivo são mais importantes do que a acumulação capitalista. Isto significa abrir mão do "progresso" representado pelas grandes obras que geram grandes impactos ambientais em nome do respeito a minorias, ao meio ambiente e à qualidade de vida. Quantos governos são capazes de fazer isso? Não os governos Lula e Dilma, que impõem (com negociação) a construção de Belo Monte, obra que a ditadura militar abandonou, por falta de recursos e de legitimidade. Belo Monte e a estrada boliviana são exemplares de como governos de esquerda podem ser melhores para o capital do que governos de direita. Investimentos estatais tiraram o País da crise, realizaram grandes obras, movimentaram a economia, deram lucros aos empresários. O governo Lula tinha apoio e jogo de cintura para impor Belo Monte. Na Bolívia, dinheiro público do BNDES financia obra de empreiteira brasileira. Já dinheiro para educação é bem mais difícil de sair e dinheiro para o Bolsa Família provoca a maior chiadeira da "grande" imprensa. Os gastos do Estado não provocam críticas porque são mal empregados ou porque há corrupção. A questão se resume a para quem vai o dinheiro, se para os empresários ou para a população. Quando o Estado gasta comprando material didático da Editora Abril a revista Veja não critica. Quando o BNDES financia multinacionais (inclusive brasileiras, como é o caso), também não. Todos esses "financiamentos" que garantem o crescimento da economia, obras do PAC e bons lucros para empresas e bancos são dinheiro que poderiam ser investidos em educação pública de qualidade, saúde pública de qualidade, transporte coletivo de qualidade, enfim, serviços que beneficiam a população e não interessam o capital. O "índio" Evo Morales dá o exemplo. Uma diferença importante entre Bolívia e Brasil é que a população boliviana se mobiliza em defesa dos seus interesses. Evo foi eleito como resultado dessas mobilizações, que, evidentemente, ele incentivou, de forma que hoje as populações indígenas estão mais organizadas do que antes. Lula foi eleito como resultado do sistema liberal representativo, depois que opções de direita (Collor e FHC) fracassaram, e baseou seu poder muito mais no voto da maioria do que na organização popular, que não incentivou (também não reprimiu).
Do Direto da Redação.
Um presidente que sabe voltar atrás
O presidente boliviano Evo Morales deu exemplo para os demais dirigentes de como se pode voltar atrás em determinadas circunstâncias. Uma estrada que passaria pelo Território Indígena e Parque Nacional Isiboro Sécure (Tipnis) foi contestada por indígenas que consideravam a obra, financiada pelo brasileiro Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES), atentatório ao meio ambiente e divisória de suas terras. Uma dura repressão, segundo informaram as agências de notícias, não ordenada por Morales se abateu sobre os manifestantes. Morales não pensou duas vezes, suspendeu a obra e agora quer que seja submetida ao julgamento popular através de um plebiscito. O presidente boliviano garantiu que não foi dele a ordem da repressão, fato que será investigado e os responsáveis punidos. Embora em um primeiro momento a culpa tenha recaído sobre Evo Morales, quem se lembra de como os movimentos sociais na Bolívia eram reprimidos não poderia acreditar que a ordem da repressão tenha partido dele. Afinal, como líder dos cocaleiros antes de ser presidente, conheceu de perto a repressão ordenada por governos neoliberais em episódios que remontam o ano 2000, como, por exemplo, a Guerra da Água em Cochabamba e assim sucessivamente. É possível que a construção da tal estrada sem consultar os indígenas da região tenha sido precipitada. Deve-se cobrar do BNDES como liberou verbas para uma obra que seria executada pela empresa brasileira OAS e é denunciada como atentatória ao meio ambiente. Isso é contra os princípios e a legislação que regula o próprio banco de fomento. Como o BNDES ainda não tinha propriamente liberado a verba para a construção, agora se espera que os técnicos responsáveis do setor sejam mais prudentes e voltem atrás, bem como daqui para frente analisem melhor os projetos polêmicos na hora de dar o sinal verde para a sua execução.
A íntegra.