terça-feira, 11 de outubro de 2011

A direita europeia se divide na crise

Interessante artigo sobre as desavenças da direita europeia. Enquanto o capital prosperava ela se uniu em torno do neoliberalismo e criou o euro. Na crise surgem manifestações preconceituosas e conflitos entre elites nacionais. Isso já deu em duas guerras mundiais. O povo, que está acostumado a ficar por baixo em toda parte, é mais tolerante e generoso.

Da Agência Carta Maior.
A Grécia vista de Berlim: um retrato da crise
Flávio Aguiar, correspondente da Carta Maior em Berlim
Eu li: "And so, when the euro zone became a reality, elephants like Germany and France came together with mice like Portugal, Ireland and Luxembourg. Stable, prosperous countries of the north shared their common currency with shaky, underdeveloped countries of the south, mature industrialized nations joined forces with what were hardly more than developing countries. Strict Protestants mixed with sensual Catholics." ("E assim, quando a zona do euro se tornou realidade, elefantes como a Alemanha e a França se juntaram a camundongos como Portugal, Irlanda e Luxemburgo. Países estáveis e prósperos do norte dividiram a sua moeda comum com países abalados e subdesenvolvidos do sul, nações maduras e industrializadas juntaram forças com aquelas que mais pareciam países em desenvolvimento. Protestantes sóbrios se misturaram com sensuais católicos".) E não podia acreditar. Não, não estava lendo o comentário, nalguma seção de Opiniões, de algum político ou economista de direita. Eu estava lendo trecho de uma longa reportagem da Spiegel International, versão em inglês da prestigiosa Der Spiegel, uma expoente do establishment liberal e ilustrado alemão. Pensei que houvesse alguma ironia ali. Mas não. A continuação da leitura me convenceu que poderia haver até sarcasmo – inclusive em relação aos tais de "sóbrios protestantes" – mas não havia ironia nenhuma. Era uma descrição do formato real, literal, de uma forma hegemônica de pensar na mídia e no senso comum alemão. O problema todo, para essa forma de pensar, é que países que fizeram a lição de casa neoliberal, que privatizaram, comprimiram salários e aposentadorias, confrontaram e reduziram o poder de barganha dos trabalhadores, de repente se viram jogando do mesmo lado da banca com países perdulários, indisciplinados, que recusaram privatizações e que ainda tinham o peso de sindicatos e movimentos fortes de trabalhadores e outras taras de um passado que deveria ser remoto. Continuei a leitura. Eis alguns trechos: "Na primavera de 2003, as taxas sobre as letras gregas eram apenas 0,09 pontos acima das alemãs. Em termos simples, isso significava que os mercados então sentiam que a Grécia, com sua economia baseada em azeitonas, iogurte, estaleiros e turismo, era um país tão merecedor de créditos e confiança quanto a Alemanha industrializada, o principal país exportador naquela conjuntura. Por que? Porque os dois países tinham a mesma moeda".
A íntegra.