Da IHU On-Line.
Tentativas de regulamentar a internet e o lento processo de democratização da rede
Entrevista especial com Mário Brandão
Iniciativas como a do Projeto de Lei 84/99, para tipificar crimes na internet estão associadas "a uma visão deturpada do que é a internet, priorizando seus potenciais riscos e possibilidades de danos", diz Mário Brandão, formado em Administração pela Universidade Gama Filho – UGF e em Webmaster pela Universidade Federal do Rio de Janeiro – UFRJ. "Proporcionalmente, a internet é um dos lugares onde menos se cometem crimes. A rede precisa ser entendida como um celeiro de oportunidades, como um vetor de democratização e universalização ao bem mais valioso dos séculos XXI, XXII e XXIII, a informação". Confira a entrevista.
IHU On-Line – Como vê o processo de regulamentação das lan houses no Brasil e a proposta de transformá-las em Centros de Inclusão Digital?
Mário Brandão – Infelizmente, a velocidade do legislativo federal não acompanha a velocidade das coisas. As lan houses existem há mais de 10 anos e só no ano passado conseguimos dar andamento a uma legislação que compreenda a importância da universalização do acesso para uma sociedade digital e com cada vez maior necessidade de democratizar o acesso à informação. A transformação das lan houses em CIDs não é fruto de uma proposta do governo. Hoje, todo pequeno negócio deixa de lado a singularidade do modelo de negócio e se diversifica para sobreviver. Não se encontra, em canto algum, uma padaria que venda apenas pães ou uma farmácia que sobreviva exclusivamente de remédios, ou um posto de gasolina que não tenha uma superloja de conveniência para garantir sua sustentabilidade. As lan houses também vivem há dois ou três anos um processo de abandonar o modelo dependente de acesso ou jogos e passar para um modelo plural que prioriza o acompanhamento e orientação de acesso a serviços públicos, que contemple serviços de segunda via de taxas, tributos e contribuições, como acompanhamento de processos judiciais, consulta e certidões negativas de todos os tipos e fins. Além disso, querem oferecer cursos de educação à distância, desde profissionalizantes até preparatórios para concursos, além de cursos de línguas, pós-graduação e graduação a distância em faculdades. Esse novo modelo de negócio acontece no Brasil afora independentemente do reconhecimento do governo. É um movimento natural do mercado. A legislação apenas legitimará esse processo e reconhecerá a importância e relevância das lan houses para a sociedade.
A íntegra.