segunda-feira, 3 de outubro de 2011

A Marcha contra Lacerda e os amigos do rei

Na velha imprensa, repórter é treinado para mostrar o que o governo pensa. Editor, para garantir que isso aconteça, mesmo contra o conteúdo da matéria. Exceto se o governo for de esquerda, é claro.

Do blog Praça Livre BH.
De olhos bem abertos: o Movimento Fora Lacerda e a mídia
Por Ommar Motta
"Se você não for cuidadoso, os jornais farão você odiar as pessoas que estão sendo oprimidas, e amar as pessoas que estão oprimindo." Malcolm X
O novo costuma assustar. Sobretudo àqueles que são mais avessos à mudança. A reação dos jornais mineiros a respeito da marcha do último sábado nos revela bastante a respeito da natureza do trabalho realizado nestas instituições a serviço da conservação do estado atual das coisas. Uma simples manchete, "Manifestantes depredam prédio da prefeitura", revela não somente uma má vontade (ou seria preguiça?) na cobertura dos fatos, mas o claro viés que nossa grande mídia vem demonstrando desde o início do período aecista em que vivemos em Minas Gerais em relação à ação do Estado de forma geral. A má vontade: qualquer calouro de curso de jornalismo que estivesse escrevendo a respeito do Movimento Fora Lacerda e cobrindo os eventos do sábado veria com clareza, mesmo antes de conversar com as pessoas que ali estavam, que se tratava de um evento bastante heterogêneo, de uma diversidade pouco comum em sua composição, que reunia não somente indivíduos de inserções radicalmente distintas (em termos de renda e classe social inclusive) na cidade, mas também uma constelação de organizações e movimentos que aderiram à marcha, e que não necessariamente participaram de sua concepção. Foi claramente visível que não existia uma unidade ou alguma coerência pré-estabelecida e coordenada por alguma organização em relação às ações de cada um destes pequenos grupos ali presentes, unidos em torno da oposição ao prefeito atual e ao que ele personifica e torna concreto (enquanto processo político). Tomar as atitudes de alguns ali presentes (neste caso, a pichação do prédio da prefeitura) como uma ação conjunta das mais de duas mil pessoas presentes na marcha, o que está implícito na manchete colocada acima, é uma distorção dos fatos, e é jornalismo de má qualidade – bastante representativo do que já estamos acostumados a ver nos jornais mineiros.
A íntegra.