Uma história incrível de um documentário incrível sobre a história absurda do Pinheirinho. O que o capital é capaz de fazer. O que a internet pode fazer.
Do Diário do Centro do Mundo (de cara nova).
Uma conversa franca com o autor do esplêndido documentário sobre Pinheirinho
Paulo Nogueira
Entrevistamos o jovem documentarista alagoano que deu voz aos sem teto do ajuntamento destruído de São José dos Campos. 1qw Fabiano Amorim O Diário entrevistou Fabiano Amorim, o autor do excepcional documentário sobre a brutal e covarde destruição de Pinheirinho, o assentamento de sem-tetos em São José dos Campos, um ano atrás. A entrevista foi por email e à distância, ele em Alagoas, o Diário em São Paulo.
- O que levou você a fazer o documentário?
- Em janeiro de 2012, estava em casa tranquilo quando vi a notícia de pessoas que estavam se armando de maneira bem improvisada. Vi reportagens relâmpago sobre o assunto. Só entendi que havia pessoas que invadiram um terreno de alguém e que a polícia queria tira-los de lá. 1301-reintegracao-posse_164053 Os moradores de Pinheirinho Aos poucos pela internet fiquei sabendo que elas moravam lá há quase 8 anos, que eram mais de 5000 pessoas e algumas coisas a mais. No dia 22 de janeiro, logo pela manhã, fiquei completamente espantado quando vi que 2000 policiais haviam invadido o Pinheirinho para botar todo mundo para fora. As redes sociais ferviam de postagens sobre o assunto. No site da Globo, que acessava com frequência, havia reportagens muito curtas, que explicavam as coisas de forma muito resumida. O mesmo nos portais de outras emissoras. No youtube é que apareceram as cenas realmente terríveis. Vi cenas absurdas de violência dos policiais, os moradores fugindo de medo. Vi o trabalho do coletivo de comunicadores populares, que em dois dias fizeram muitas entrevistas e fizeram um minidocumentário chamado "Pinheirinho: A verdade não mora ao lado". Me impressionou a capacidade de mobilização das pessoas nesse momento. Fiquei muito triste com tudo aquilo. Passava o dia inteiro procurando pela internet novidades sobre o assunto. Eu não conseguia acreditar que uma barbaridade como aquela havia acontecido. Quando vi as casas dos moradores sendo demolidas com tudo dentro, a minha indignação cresceu muito. Passei os dias seguintes bem triste, dormia triste e acordava triste. Aquilo aconteceu com gente que nunca vi na vida, mas me doeu demais. Já havia visto muita injustiça acontecendo, mas aquela foi a gota d’água. Eu não conseguia suportar a sensação de impotência. Era muito doloroso ver tudo aquilo acontecendo e não poder fazer nada a respeito. É duro ser um único homem fraco contra tantos gigantes juntos. Daí comecei a escrever no meu blog sobre isso e passei a compartilhar no facebook todas as novidades que via. Mas as pessoas não ligavam muito para isso. Poucos davam atenção. No dia 29 de janeiro, 7 dias após o ocorrido, resolvi que ia fazer alguma coisa. A indignação que possuía dentro de mim era forte demais. Ela não ia passar apenas comentando sobre o assunto no meu blog ou postando no facebook. Foi então que resolvi que havia chegado a hora de fazer o meu primeiro documentário. Ia me dedicar o máximo que pudesse para que aquilo se tornasse realidade. Dentro de mim havia uma angústia que precisava sair. Eu precisava pôr aquilo para fora. Eu precisava dar um grito, mas não qualquer grito. Tinha de ser um grito ensurdecedor. Esse grito ia ser o meu documentário. A partir de 30 de janeiro iniciei o planejamento do desenvolvimento do projeto.
- Qual o orçamento de que você dispôs?
- De início fiz um planejamento para comprar uma boa câmera, viajar até São José dos Campos e filmar por lá alguns dias. Porém estava desempregado, minhas finanças não estavam tão boas e o concurso público da UFAL que eu havia passado estava demorando muito para me nomear. Com tantos empecilhos, me desanimei. Depois parei para pensar e lembrei que havia centenas de vídeos sobre o assunto no youtube. Havia centenas de notícias e artigos sobre isso. Eu já havia assistido documentários de pessoas que não estiveram no local sobre o qual o documentário falava e eram bons documentários. Eu só precisava levantar toda a história pra contá-la da melhor maneira possível. Os gastos que realmente tive foram: * um computador (PC) mais potente para gerar os vídeos: R$ 1600. * Um microfone para fazer a narração: R$ 310. * Cinegrafista que filmou a entrevista com Jairo Salvador: R$ 170. * total: R$ 2.080,00.
A íntegra.