Entrevista do Juca Kfouri à Folha republicada pelo IHU On-Line põe os pingos nos is. A copa de 2014 deve ser feita dentro das condições brasileiras e não das condições exigidas pela Fifa, que segundo o jornalista inglês Andrew Jennings, é uma máfia, exige obras porque é delas que sai o dinheiro para corrupção. O PCdoB (Orlando Silva e Aldo Rebelo) é a parte mais direitista dos governos Lula e Dilma, aliado da Fifa e do agronegócio destruidor do ambiente (novo código florestal).
Às favas com a Fifa
- O que está em jogo para o Brasil na aprovação da Lei Geral da Copa, que define as regras para sediar o evento?
- Quando um país se candidata a um Mundial, ele já sabe que vai entregar a sua soberania. A isenção de impostos, os convidados VIPs, a possibilidade do marketing de emboscada, a bebida alcoólica no estádio. Tudo isso já está no caderno de encargos. Na Alemanha, em 2008, com exceção da cidade de Dortmund, onde o Partido Verde brigou para cacete e conseguiu fazer com que se vendesse também a cerveja local, em todos os estádios era possível comprar apenas Budweiser. Isso é uma ofensa no país da cerveja servir aquele xixi de caveira.
- Qual é o risco de o Brasil deixar de ser sede da Copa de 2014?
- O risco que o Brasil corre é de a Fifa se arreglar com a Inglaterra, que está incomodando uma barbaridade, e entregar a Copa a eles. Gostaria de ver isso. Já ocorreram desistências, como a Colômbia, que desistiu dois anos antes de realizar a Copa de 1986. Acho que o Brasil não vai desistir, mas a Fifa pode, sim, entregar a Copa do Mundo para a Inglaterra se o governo dificultar muito a vida deles. Agora, devido às pretensões brasileiras de ter um lugar no Conselho de Segurança da ONU, é difícil imaginar que o Brasil deixe isso acontecer. Penso que a presidenta Dilma vai endurecer o quanto ela puder, mas cederá tudo aquilo que for inegociável para a Fifa. A indicação do [deputado federal] Vicente Cândido (PT-SP) como relator da Lei Geral da Copa mostra que a presidenta não está tão inflexível. Cândido é também vice-presidente da Federação Paulista de Futebol e sócio de Marco Polo del Nero, homem muito ligado a Ricardo Teixeira, presidente da CBF e do COL [Comitê Organizador Local da Copa do Mundo]. Eu exultaria se o Brasil mandasse a Fifa às favas. Seria uma demonstração de dignidade, de soberania. Acho que seria um exemplo e que dinamitaria a Fifa. Mas é óbvio que é tudo suposição. É muito difícil que isso ocorra.
- Você é um dos raros corintianos contra a construção do Itaquerão.
- As pessoas me falam: "Você é contra o Itaquerão, pô! Que tipo de corintiano você é?". Não se está discutindo se o clube merece ou não um estádio. O que se discute é que a operação, em si, é um escândalo. Numa cidade como São Paulo você achar que um estádio como o Morumbi não serve para sediar seis ou sete jogos da Copa do Mundo no Brasil é loucura. Se os alemães tivessem demolido o Allianz Arena, em Munique, tudo bem. Mas a Alemanha pode. Nós não. Cinquenta anos depois descobriram que o Morumbi não serve para jogo de futebol? Já se fez tudo que é competição aqui: final de Libertadores, eliminatórias de Copa, Mundial de Clubes da Fifa.
- Mas seriam necessárias reformas.
- Claro, o Morumbi não é o ideal, mas é factível. Como o Ellis Park foi factível para a Copa na África do Sul, em 2010. Agora, em Johannesburgo também cometeram excessos. Fizeram o Soccer City, a 4 km do Ellis Park, no Soweto. Qual era a justificativa: polo de desenvolvimento. Aqui, polo de desenvolvimento! [fazendo uma "banana"]. Vá lá ver se é polo de desenvolvimento. Os caras têm um monumento daqueles, mas não têm o que comer. Na Cidade do Cabo fizeram um estádio maravilhoso, uma das coisas mais lindas que já vi. Mas desalojaram 4.000 famílias da região. Agora falam em demolir porque nunca mais ocuparam o estádio. Vamos repetir isso no Recife, apesar de o Náutico ter dito que poderá usar o novo estádio. Mas e em Brasília, Cuiabá, Natal? Nem futebol profissional há por lá!
- Então o Brasil não deveria nem ter pensado em sediar uma Copa?
- Aí é que está. Deveria, sim. Mas para fazer uma Copa do Mundo do Brasil no Brasil. Não uma Copa do Mundo da Alemanha no Brasil. Claro que o Brasil pode fazer uma Copa, mas tem que fazer dentro das nossas possibilidades. E qual o maior sentido que faria para o Brasil sediar um evento como esse? Os legados para as tais 12 sedes. Em Johannesburgo, por exemplo, eles ficaram com um aeroporto ótimo. Embora tenha sido inaugurado um dia depois do fim da Copa, está lá, e o povo sul-africano pode usufruir disso. Tem a linha do monotrilho que liga o aeroporto ao centro rico da cidade. Esse tipo de investimento deveria ser feito aqui. Essa obsessão por novos estádios é uma reprodução, sem tirar nem pôr, do que se fez durante a ditadura militar. Os estádios brasileiros nunca tiveram sua capacidade máxima ocupada, têm 65% da capacidade ociosa nesse Campeonato Brasileiro. Estamos construindo elefantes brancos, reproduzindo o que ocorreu durante a ditadura em um governo democrático, dito de esquerda, sob a égide do PC do B. Isso é uma loucura!
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