Para quem nunca leu o Manifesto Comunista, eis um bom resumo em forma de entrevista. Marx era tão comedor de criancinhas quanto Lula, Dilma, Chávez ou qualquer outro que contraria interesses do capital. E embora tenha sido endemoniado, suas ideias fazem parte do nosso conhecimento hoje, como fazem parte as ideias de Darwin ou de Newton. É impossível entender o mundo contemporâneo sem usá-las.
Do Diário do Centro do Mundo.
Conversa com Escritores Mortos: Marx e Engels
Camila Nogueira
A crise econômica mundial devolveu Marx aos debates. O Diário, atento, quis ouvi-lo na série Conversas com Escritores Mortos. Incluímos na conversa, por delicadeza, o melhor amigo de Marx, Engels, seu parceiro em muitos projetos, e também seu financiador dedicado, leal.
- Herr Marx e Herr Engels, os senhores foram grandes intelectuais e revolucionários, além de terem sido os fundadores da doutrina comunista. Alguns dizem que foram até mesmo filósofos. Os senhores se consideram como tais?
- Talvez um pouco, mas não muito. Somos muito mais revolucionários do que filósofos. Os filósofos apenas interpretaram o mundo, de várias maneiras diferentes; o ponto, no entanto, é que não basta interpretar o mundo – é necessário mudá-lo.
- E essa, certamente, foi a intenção dos senhores.
- Sim, é claro que sim. Os comunistas, como nós, lutam para atingir os interesses e objetivos imediatos da classe operária. Em uma palavra, em toda a parte os comunistas apoiam qualquer movimento revolucionário contra as ordens sociais e políticas estabelecidas. Tencionamos ascender o proletariado à classe dominante em nossa luta pela democracia.
- Hmmm…
- O que o operário assalariado obtém por sua atividade é o estritamente necessário para garantir-lhe a sobrevivência. Queremos apenas suprimir o caráter miserável dessa apropriação, em que o operário só vive para aumentar o capital e só vive enquanto o exigem os interesses da classe dominante.
- Compreendo. Vocês conseguiriam resumir em algumas palavras do que se trata a dita "burguesia"? E o "proletariado"? - Por burguesia entendemos a classe dos capitalistas modernos, proprietários dos meios de produção social e empregadores do trabalho assalariado. Por proletariado entendemos a classe dos operários assalariados modernos que, não possuindo meios próprios de produção, reduzem-se a vender sua força de trabalho para que possam sobreviver.
- Entendo perfeitamente. Por vezes, penso nas monarquias e então na burguesia – e me pergunto se a última aboliu as classes hierárquicas existentes na primeira. Isso aconteceu, senhores?
- Tentaremos explicar brevemente. Na Roma Antiga, temos patrícios, cavaleiros, plebeus e escravos; na Idade Média, senhores feudais, vassalos, mestres de corporação, oficiais e servos. A sociedade burguesa moderna, oriunda do esfacelamento da sociedade feudal, não supriu a oposição de classes. Limitou-se a substituir as antigas classes hierárquicas por novas classes, por novas condições de opressão, por novas formas de luta. E cada vez mais a sociedade inteira divide-se em dois grandes blocos inimigos, em duas grandes classes que se enfrentam diretamente: a burguesia e o proletariado.
- Eu compreendo plenamente o fato dos senhores adotarem os interesses proletários. Ainda assim, gostaria de saber se vêem algum mérito nas ideias e realizações burguesas?
- Sim. A burguesia foi quem primeiro mostrou quão capaz é a atividade humana. Realizou maravilhas superiores às pirâmides egípcias, aos aquedutos romanos e às catedrais góticas. Levou a cabo expedições maiores que as grandes invasões e as Cruzadas. Em apenas um século de sua dominação de classe, a burguesia criou forças de produção mais imponentes e mais colossais que todas as gerações precedentes reunidas.
- E como isso foi feito?
- Controlando cada vez mais a dispersão dos meios de produção da propriedade e da população. Aglomerando a população, centralizando os meios de produção e concentrando a propriedade em poucas mãos.
A íntegra.