Deve ir já. Enquanto está inteiro. Enquanto ainda joga futebol. Sua expulsão hoje é emblemática e se eu fosse ele ou um dos empresários que decidem seu futuro o tirava daqui imediatamente.
Não sou santista. Não estou entre os que idolatram Neymar. Também não estou entre os que o consideram enganador. É verdade que virou mais um garoto propaganda do que um jogador, mas também é verdade que é um dos melhores jogadores de todos os tempos. Está longe de render, em títulos, o que jogadores do seu nível podem render. Certamente porque escolheu ficar aqui. O que foi uma coisa boa, porque valorizou o futebol brasileiro. No entanto, mostrou-se uma coisa péssima, para ele e para o futebol brasileiro, porque aqui não consegue mais jogar. É impressionante como os brasileiros estão crucificando Neymar, bem naquele espírito brasileiro que Tom Jobim denunciou faz tempo. Deveríamos valorizar Neymar como os europeus valorizam Messi, por exemplo. Em vez disso, o perseguimos, desculpamos zagueiros violentos e justificamos juízes incompetentes.
Hoje, contra a Ponte Preta, Neymar foi caçado o tempo todo por adversários violentos, com a cumplicidade do juiz. Por fim um beque desses que ninguém vai ficar sabendo o nome meteu a mão na sua cara e outro completou o serviço jogando-o no chão (dois contra um! Neymar sempre é marcado com covardia). O que fez o juiz (outro que ninguém jamais saberá o nome)? Expulsou os dois! O beque anônimo que bateu e Neymar, que apanhou.
O decadente, medíocre, violento e corrupto futebol brasileiro -- dos cartolas aos juízes, dos beques aos volantes, dos treinadores aos comentaristas -- não merece Neymar. E pensar que este já foi o país de Garrincha, a alegria do povo; que quando Garrincha driblava -- e ele era muito mais moleque do que Neymar -- os torcedores aplaudiam, a imprensa ria e os adversários o respeitavam. Se jogasse hoje, neste país de jogadores que rezam mais do que jogam, Garrincha seria crucificado também.
Antes que o quebrem ou o prendam -- porque qualquer dia desses é capaz de um drible ser considerado ofensa e o jogador sair direito para dar explicações na delegacia -- Neymar deve se mudar para um país que goste de futebol, em que os jogadores visem à bola e os juízes apitem faltas. Neymar precisa de um time em que ele não seja a grande estrela, ele precisa fazer parte de uma equipe, de um conjunto que joga bola, ele precisa ser mais um, um dos melhores, mas um dos, não a caça exclusiva em campo -- dos adversários, dos juízes e dos comentaristas.
PS: Depois que Neymar foi expulso, o jogo ficou normal, dez jogadores medíocres de cada lado, todos dando chutões igualmente, batendo igualmente, apanhando igualmente; um jogo equilibrado na mediocridade, do jeito que jogadores, treinadores, juízes e comentaristas brasileiros gostam e o futebol brasileiro atual merece.