Documentário mostra como a Copa da Fifa 2014 destrói o que encontra no seu caminho. Comumente, o que se chama de progresso são os interesses do capital. Neste caso, os interesses dos capitalistas da Fifa e da CBF, das televisões, das empreiteiras e seus representantes políticos (de todos os partidos, do PT ao PSDB, do PMDB ao PSB). O povo? O povo é um detalhe, removido -- casas, escolas, museus, mesmo centros de treinamentos de atletas (afinal, o "evento" é esportivo). Os governos do PT são governos capitalistas com preocupação social, o que é melhor do que governos do PSDB, que são governos capitalistas sem preocupação social. Mas prevalecem nele os interesses do capital -- basta ver o dinheiro que o BNDES destina às grandes empresas e aos programas sociais. E, como em todo governo capitalista, prevalecem os interesses "gerais", do "progresso", sobre os interesses específicos de comunidades locais. Assim é nas obras da Copa, assim é em Belo Monte, assim é na transposição do São Francisco e no PAC. É uma visão discriminatória, autoritária e atrasada de progresso, porque desconsidera que as partes formam o todo e o que se faz nas partes atinge o todo. A copa de 2014 é uma propaganda, não mais que isso, uma propaganda enganosa, pela qual os governos deveriam ser processados, pois cometem crimes no presente em nome de benefícios no futuro, para atender às exigências da Fifa. Exigências que não foram feitas na Alemanha, por exemplo. Benefícios que não aconteceram na África do Sul, por exemplo. É o pior lado dos governos do PT.
Do Pública.
Minidoc: Francisca perdeu tudo por estar no caminho da Transoeste
Por Andrea Dip
Vídeo mostra o momento em que, sem aviso prévio, tratores e agentes da prefeitura do Rio chegaram para demolir as casas e comércios de 153 famílias que viviam na comunidade Restinga.
"Vi a máquina arrebentando o portão. Eu tentei entrar na frente e um rapaz que estava lá trabalhando com eles me segurou. Foi espontâneo eu ficar segurando na corrente, achando que eles iriam parar para conversar comigo e com os outros moradores. Mas minha irmã e minha filha ficaram gritando, pedindo para eu sair. Fui na minha casa, peguei um saco de documentos e fui para a casa de um irmão. Fiquei em estado de choque, chorando sem parar. Por que aquilo? Por que tirar a moradia de tantas pessoas necessitadas?" É impossível assistir ao video que traz a história de Francisca de Pinho Melo sem que um nó se forme na garganta.
Lançado no começo de janeiro, o minidoc é o segundo da série "O Legado Somos Nós", produzida pela organização de direitos humanos Witness em parceria com o Comitê Popular Rio Copa e Olimpíadas.
Até agora, os moradores receberam um valor irrisório como indenização e os comerciantes nenhuma indenização, apesar do Decreto Municipal 20.454 de 2001 determinar que, no caso de remoção de estabelecimento comercial, "será ofertada uma nova unidade comercial, indenização ou compra de outra benfeitoria sujeitas aos mesmos critérios definidos para as edificações de uso residencial, previstos em projetos da SMH".
Segundo o documentário, oito mil pessoas já perderam suas casas no Rio de Janeiro desde o início dos preparativos para os megaeventos e o dossiê do Comitê Popular Rio da Copa e Olimpíadas fala que cerca de 30 mil pessoas sofrerão remoções forçadas na cidade por causa da Copa e das Olimpíadas.
A íntegra.