O ex-deputado e ex-ministro morreu quarta-feira, 14/2/13, aos 74 anos. A federalização do ensino fundamental é uma necessidade do País. O dinheiro do petróleo pode ser, enfim, a forma de viabilizá-la. Escola pública de qualidade em tempo integral para todas as crianças.
Da Carta Capital.
No gosto do povo
Fernando Lyra
Quando o presidente Lula anunciou Dilma Rousseff como sua candidata à Presidência, a reação foi de completa perplexidade. Executiva decidida e conhecida por suas opiniões fortes, Dilma nunca havia concorrido a uma eleição. Tinha uma história de vida complexa, uma reconhecida competência técnica e uma experiência de sucesso substituindo o até então insubstituível ministro José Dirceu na Casa Civil do governo. Mesmo assim, essas credenciais pareciam insuficientes, até porque ela não era uma petista histórica, suas raízes partidárias estavam no PDT de Brizola, onde exerceu diversas funções na cidade de Porto Alegre e no governo do Rio Grande do Sul, adquirindo experiência administrativa.
A presidenta caiu no gosto do povo. Deu ao cargo uma dignidade diferente, com um comportamento mais parecido com os dos governantes do Primeiro Mundo. Sua popularidade, com dois anos decorridos de governo, supera em muito a votação que recebeu. Sabemos que política é mutável como as nuvens, mas, consultando os astros, sua situação para a eleição de 2014 é muito confortável.
No entanto, no meu entender, o mais importante ato do governo Dilma, até agora, foi a sua decisão de reservar os rendimentos dos royalties do petróleo para utilização exclusiva na educação. Uma tese antiga, defendida, entre outros, pelo meu amigo o senador Cristovam Buarque. Essa decisão, sim, é capaz de garantir de uma vez por todas o encontro do Brasil com seu futuro. Hoje, esse encontro parece distante. Os índices educacionais brasileiros podem até ser maquiados para aparentar melhorias, mas temos de reconhecer, mais uma vez, nossa incompetência. Pouco melhorou.
No começo de dezembro, um Cristovam Buarque indignado discursou na tribuna do Senado sobre recente pesquisa na área de educação que coloca o -Brasil em um vergonhoso 39º lugar entre 40 países. Um Cristovam indignado surpreendeu-se com a falta de repercussão de tanta vergonha. Um Cristovam indignado perguntou "se não temos vergonha na cara de sermos a sexta economia do mundo e apresentarmos índices tão baixos de educação". Um Cristovam indignado disse “eu faço esse discurso e, amanhã, nada acontece”. E continua… "A impressão que me está passando é de que está faltando vergonha na cara da gente, mas, além de faltar vergonha, sobra burrice."
Quero me associar a Cristovam na indignação e na vergonha. Isso tem de mudar. Tem de haver uma reforma estrutural, a federalização das escolas públicas de ensino fundamental e médio. Educação tem de ser prioridade absoluta. E não é e nunca foi. Desde os tempos do império. Mas poderá ser. A presidenta Dilma pode deixar sua marca na maior revolução da história deste país. Pode, por meio das melhorias na educação, ensinar uma nação a pensar, se reinventar e, assim, trabalhar para fazer do Brasil finalmente o país do futuro que tanto já foi cantado mundo afora.
A íntegra.