A visão que prevalece na opinião pública é a difundida pelos EUA. Que mal já fez a Coréia ao mundo? E o Irã? E o Iraque? E o Afaganistão? Bin Laden e Saddam Hussein prosperaram como aliados americanos, até cair em desgraça. A China fez o caminho inverso: era considerada terrorista, antes de se tornar aliada americana. A ameaça de uso da bomba atômica por esses países, tão repetida pela grande imprensa pró-EUA, aterroriza a população mundial, mas o único país que já lançou bombas atômicas sobre civis foram os próprios Estados Unidos. Quem está armado até os dentes e bombardeia os vizinhos é o grande aliado americano no Oriente, Israel. E assim se distorce a história. O diabo não aparece pintado de diabo. Não há bem e mal na política mundial, tampouco há verdade absoluta; o que há são interesses e versões.
Do Opera Mundi.
Coreia do Norte sabe o que faz
Breno Altman
Pode-se não gostar da política e do estilo, mas a Coreia do Norte está longe de ser uma pantomima do absurdo.
Não falta quem apresente o governo de Pyongyang como um bando de aloprados, chefiado por um herdeiro tonto e tutelado por generais dignos de Dr. Strangelove, o célebre filme de Stanley Kubrick estrelado por Peter Sellers. Mas fica difícil acreditar que um Estado pintado nessas cores possa ter sobrevivido a tantas dificuldades nesses últimos vinte anos.
Depois do fim da União Soviética e do campo socialista na Europa Oriental, que eram seus grandes parceiros econômicos, a Coreia do Norte entrou em colapso. O caos foi agravado por catástrofes naturais que empurraram o país para uma situação de fome. Poderia ter adotado o caminho de reformas semelhantes às chinesas, mas o risco de ser açambarcado por Seul afastou essa hipótese.
O forte nacionalismo, mesclado com economia socialista e mecanismos monárquicos, impulsionou uma estratégia de preservação do sistema. Laços com a China foram reatados. E os norte-coreanos resolveram peitar o cerco promovido pelos EUA, cuja exigência era rendição incondicional.
A consequência óbvia dessa decisão foi reforçar a defesa militar, tanto do ponto de vista material quando cultural. Na chamada ideologia juche, criada pelo fundador da Coreia do Norte, Kim Il Sung, que combina marxismo e patriotismo, as Forças Armadas são a coluna vertebral da nação.
Pyongyang, portanto, jamais descuidou de estar preparada para novos conflitos depois do armistício que, em julho de 1953, suspendeu a Guerra da Coreia. Sempre considerou que a disputa entre norte e sul teria a variável da presença de tropas estadunidenses.
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