Jornal marinho só aceita publicar matéria paga de sindicato dos trabalhadores se o texto for reescrito por seus censores. Um caso exemplar da liberdade de imprensa versão PIG.
Do Observatório da Imprensa.
Liberdade de imprensa segundo o 'Globo'
José Attico Lebrão Rocha
Recentemente, os serventuários da Justiça do Estado do Rio de Janeiro foram surpreendidos por um anteprojeto de lei que concede auxílio-moradia aos juízes que militam em todo o estado. Tal auxílio é de 18% do salário dos magistrados e é retroativo a 10 (dez) anos. No total, a bagatela chega a R$ 400 milhões do orçamento do Tribunal de Justiça que, segundo o discurso oficial, começou o ano com um déficit estimado em R$ 180 milhões. E é deste mesmo orçamento que, coincidentemente, sai o salário dos serventuários, bafejados no ano passado por um "vigoroso reajuste" de 4%. O Sind-Justiça entendeu que a grana que vai chover nos bolsos de suas excelências e, por tabela, dos desembargadores, onera os cofres públicos, impede qualquer futuro reajuste salarial de quem trabalha na Justiça e barra o ingresso de 1.800 concursados que, se empossados, poderiam contribuir para amenizar um pouco a doente lentidão com que tramitam os processos nossos de cada dia. Querendo explicar ao respeitável público o que (agora sim, sorrateiramente) ocorre no Tribunal de Justiça do Rio, os serventuários da Justiça decidiram procurar os jornais dispostos a publicar matéria paga relatando os fatos. O Dia aceitou os R$ 14 mil dos serventuários e publicou na quinta-feira (11/4/13) a íntegra do texto. Mas O Globo e sua versão segunda linha, o Extra, paladinos da liberdade de imprensa (segundo eles), se recusaram a dar curso ao material dos serventuários. O jornal da família Marinho foi além. Segundo um contato, o texto só poderia ser publicado depois de passar pelo crivo dos censores da casa. O material modificado revelou-se uma mixórdia mal escrita, na qual desaparecem as reivindicações da classe e, de certa forma, ameniza o novo ganho mensal dos juízes (salários em torno de R$ 25 mil).
É lógico que O Globo – cuja tiragem pífia e pouca credibilidade não o recomendariam como veículo para esse tipo de publicação – sabe de que lado está. O interessante é a postura com que o jornal, onde pontificam Miriam Leitão e o literato da política (e membro da Academia Brasileira de Letras) Merval Pereira, defende a liberdade de imprensa. Liberdade, na versão de O Globo (e que todos nós devemos nos apressar em entender) é a que a imprensa corporativa tem de censurar textos com reivindicações de serventuários da justiça & trabalhadores assemelhados. Ou simplesmente se recusar a publicá-los. Mesmo quando esses trabalhadores se dispõem a pagar pela publicação.
A íntegra.