Nesses casos absurdos e revoltantes, é bom ler a palavra sempre sensata e sensível do Sakamoto.
Acrescento: vivemos a barbárie. Desde a eclosão da Primeiro Guerra Mundial, quando o mundo do capitalismo liberal com suas promessas ruiu, entramos na barbárie, da qual a destruição do planeta e a violência absurda nos dão testemunhos todos os dias. Indivíduos seguem o exemplo dos Estados: há barbarismos maiores do que as câmaras de gás do nazismo, as bombas atômicas jogadas no Japão, as bombas de napalm jogadas no Vietnã ou o que Israel e EUA fazem contra os palestinos?
Se a Terra, que é a nossa mãe, de nada vale, por que valeria uma vida humana? Se o Estado pode cometer todas as violências, por que não posso eu? Esta é a ideia que anda solta neste mundo guiado pelo individualismo e pelo imediatismo do capital.
Contra a barbárie, era preciso criar o socialismo, mas não fomos capazes e agora parece tarde. De qualquer forma, quem quer o fim do capitalismo? Não o PT, não o Partido Socialista francês. Nem os comunistas chineses, que escolheram a poluição do progresso. Muito menos os americanos, que vivem na "pátria da liberdade e democracia".
Como observa Sakamoto, há mais chance de sermos mortos -- nos EUA, na Noruega, na China ou no Brasil -- por um maluco do que de ganharmos na loteria, mas continuamos jogando na mega-sena e ignorando os malucos, achando que (a desgraça) não vai acontecer com a gente.
Do Blog do Sakamoto.
Crime no ABC: nesses momentos, decidimos que tipo de sociedade nós somos
Por Leonardo Sakamoto
Alguns leitores têm me cobrado uma posição a respeito do ocorrido em São Bernardo do Campo (SP), na última quinta (25/4/13), quando uma dentista foi queimada viva em seu consultório após assaltantes roubarem seus cartões bancários, tentarem um saque e se vingarem ao perceberem que ela tinha apenas R$ 30. O responsável por atear fogo tem 17 anos.
Na minha opinião, foi uma tragédia, um crime bárbaro. E os envolvidos devem ser responsabilizados pelo que prevê a lei, seja com internação para quem tiver menos de 18 anos ou com prisão para quem tiver essa idade ou mais. Se constatado que a pessoa é incapaz e é um risco para a sociedade e para si mesma, que seja encaminhada a uma instituição especializada.
Calculei que já escrevi uns dez posts contra a redução da maioridade penal nestes sete anos de blog, então não vou entrar na mesma discussão de novo. Ó, se tiverem curiosidade, a busca tá aí do lado para ser usada. Nas últimas semanas, foram vários.
Reafirmo, contudo, que sim, 93% dos paulistanos (que são favoráveis à redução, pela pesquisa Datafolha) estão errados e, considerando que a lei dificilmente mudará, o melhor seria que todos ajudassem a buscar soluções que atuem nas causas do problema. Ou alguém acha que uma pessoa capaz de entender o valor da vida ou que teve sua vida respeitada pela sociedade botaria fogo em alguém? Há casos patológicos e aqueles que a patologia fomos nós, como coletividade, através de nossa inação e ausência.
Sobre os casos patológicos, vale uma consideração. Atos de insanidade são atos de insanidade. A nossa sociedade, concordemos ou não com isso, vai continuar produzindo situações que não fazem sentido. Há aqueles que não têm nada a perder porque nada tiveram. E os que podem perder muito mas, sinceramente, não se importam.
Temos dificuldade de concordar com isso porque acreditamos que, criando regras e impondo normas, somos capazes de zerar o risco. Podemos diminuí-lo, nunca controlá-lo. Fazemos isso e jogamos o imponderável para baixo do tapete porque, se pensarmos nele, nem levantamos da cama de manhã para ir trabalhar ou estudar.
Sim, nossa sociedade gera aberrações por vários motivos e por nenhum. Sim, existe a possibilidade – maior do que ganhar na MegaSena – de você morrer nas mãos de um maníaco na rua. Como o ultradireitista Anders Behring Breivik, que, em julho de 2011, matou 77 pessoas na Noruega – entre elas 69 que estavam em um acampamento para jovens. Ou Wellington Menezes de Oliveira que assassinou 12 jovens, que tinham entre 12 e 14 anos, no que ficou conhecido como o Massacre do Realengo, no Rio de Janeiro, em abril do mesmo ano. Ao final, suicidou-se. Ou como – respeitadas as devidas proporções – tantas pessoas que dirigem totalmente embriagadas e não se importam com o restante de sua comunidade.
A íntegra.