sábado, 12 de outubro de 2013

Lição de história: os bandeirantes paulistas


Do Diário do Centro do Mundo.
O que está por trás do protesto contra os bandeirantes em São Paulo 
Por Jura Passos.

Aconteceu o primeiro protesto contra os bandeirantes em São Paulo.
O protesto foi no Monumento às Bandeiras, cartão postal da cidade esculpido pelo italiano Vitor Brecheret, em que os tupis mamelucos ostentam cruzes no pescoço e seguem portugueses gigantes montados a cavalo.
O monumento foi pichado e os bandeirantes e mamelucos foram tingidos de vermelho. Merecidamente: os bandeirantes eram caçadores de escravos guaranis.
São Paulo nasceu de uma aliança entre os jesuítas e uma tribo de mamelucos tupis liderada por João Ramalho, casado com Bartira, a filha do cacique Tibiriçá.
A cidade surgiu de um acordo nepotista para a implantação de um colégio cristão às margens do Tamanduateí, o rio dos tamanduás. Esses escravos tupis integrantes das bandeiras escravagistas é que foram pichados no Ibirapuera – a árvore ou mata desaparecida.
Mas os jesuítas fundaram muito mais que São Paulo. Fundaram mais de 30 reduções, ou missões, em território guarani, no sul do atual Brasil, Argentina e Paraguai. Na época, os territórios eram disputados por espanhóis e portugueses.
Em São Paulo, Raposo Tavares – que dá nome à estrada que segue em direção às missões – é considerado herói. Nas missões jesuítas argentinas, paraguaias e gaúchas ele é chamado de bandido até hoje.
Sob o comando dos sacerdotes jesuítas mais cultos e bem preparados – que incluíam artistas, cientistas e arquitetos – as missões alcançaram um nível avançado de desenvolvimento social, artístico e cultural.
Os guaranis tornaram-se capazes de escrever e tocar música barroca, esculpir a pedra e construir e decorar igrejas como as florentinas ou sevilhanas.
Os escravos eram artistas. Os escravizadores, semianalfabetos. Os paulistas acabaram com as missões e com as habitações comunitárias que circundavam a igreja e o colégio centrais de cada uma delas, porque a educação era central no projeto missioneiro.
Liquidaram as escolas e a habitação popular. Reduziram a escombros as casas das reduções missionárias. Destruíram o Minha Casa Minha Vida guarani para obrigá-los a trabalhar de graça nas fazendas paulistas.
Depois de transformar as missões em ruínas e escravizar seus habitantes – coisa que as escolas paulistas ensinam mas não criticam – os paulistas começaram a ser expulsos ao perder pela primeira vez na batalha de Bororé, às margens do rio Uruguai, selando definitivamente a fronteira entre o Brasil e a Argentina. Bororé é o veneno que os índios colocavam na ponta das flechas. O veneno funcionou tanto quanto as armas de fogo que os jesuítas receberam da coroa espanhola, também inimiga dos bandidos paulistas.
A íntegra.