Os pecados do PT não estão onde a velha "grande" imprensa aponta; nestes, é mais provável que a gente encontre qualidades: Mais Médicos, Bolsa Família, ações afirmativas, distribuição de renda...
O que incomoda essa gente, que mistura empresários gananciosos e subalternos dispostos a vender sua pena por um bom dinheiro, fama e convites para as festas dos ricos, é a mudança que a ascensão do PT acarretou no País: saiu parte dos que controlavam o Estado há quinhentos anos (outra parte ficou) e entraram novos ocupantes, uma gente de esquerda, que em 68 pegou em armas, gente do povo, quee em 78 fez greves. Aceitar essa gente, esses novos ricos da política, era intolerável para os protofascistas que fazem muito barulho, mas não reúnem nem cem quando marcam um protesto.
Mas o mundo gira e a lusitana roda, e na verdade essa gente barulhenta não tem a importância que se lhe dá e ocupar tempo com ela é só desviar energias que devem ser gastas com coisas realmente importantes. De fato, o que essa gente faz é o mesmo que um motorista chinfrim que estaciona o carro, abre a porta e liga o som horroroso (sempre é "música" de péssima qualidade) tão alto que nos impede de pensar ou fazer outra coisa.
Os pecados do PT são outros: suas alianças com setores econômicos e sociais nefastos.
Aliança com o agronegócio, que eliminou a Mata Atlântica, extingue o Cerrado e avança sobre a Amazônia, deixando um rastro de destruição ambiental e social, assim como a mineração, atividades que tiram tudo da terra para vender baratinho no estrangeiro, formam uma nobreza de "rei da soja", "rei do gado", "rei do nióbio", "rei do ferro" etc., poucos donos de imensas propriedades, maiores até do que muitos países, dinheiro que faz fortunas, é comemorado por publicações neoliberais deslumbradas e sem qualquer senso crítico, e pelo governo, porque equilibra a balança comercial, mas em seguida some no ar, deixando só os sofrimentos e os problemas para as gerações futuras, pois minério só dá uma safra e o agronegócio exaure a terra envenenada e extingue recursos ambientais que explora intensamente, exaustivamente.
Aliança com as empreiteiras, que fazem obras desnecessárias e superfaturadas, que expulsam populações e transformam as cidades em florestas de concreto, perpetuando o modelo do transporte individual, que enche as ruas de carrões, o ar de fumaça e os seres humanos de doenças.
Aliança com notórios espertalhões que promovem eventos "mundiais" para esbulhar os povos tolos.
Estes são os defeitos do PT, suas alianças com setores mais que conservadores, deletérios para o País que sonhamos, para o mundo em que viverão nossos filhos e netos.
Alianças urdidas na sombra, que tornam o PT o grande êxito político que é, muito melhor para os ricos do que foram os tucanos e outros bichos, pois tem apoio popular seguro e é capaz de vencer eleições.
Alianças que levam um mineiro à presidência da principal entidade empresarial do País no mesmo momento em que uma mineira, belo-horizontina, se torna presidente da República e seu amigo ex-prefeito da capital se torna ministro, prestando "consultoria" para o mesmo empresário, e em 2014 volta como candidato a governador, futuro governador, com apoio do partido dos trabalhadores e da entidade do capital.
Os pecados do PT estão embutidos na sua transformação em partido do capital, e o capital gosta de negócios que lhes rendam lucros, à custa do Estado, à custa dos interesses nacionais, à custa dos trabalhadores.
O maior pecado do PT é fazer, como partido dos trabalhadores, o que outros partidos foram incapazes, como partidos do capital. Como no caso do pré-sal.
Do Correio da Cidadania.
Como matar o setor de petróleo
Paulo Metri – conselheiro do Clube de Engenharia
Na década de 1990, auge do período neoliberal, Betinho escreveu um capítulo do livro "Em defesa do interesse nacional", cheio de ironia e bom humor mas muito sério, intitulado "Como matar uma estatal".
No capítulo, ele descreve todas as ações que um "bom administrador" deveria tomar para atingir seu objetivo de matar a estatal. Nos dias atuais, se ainda estivesse entre nós, ele talvez escrevesse sobre como matar o setor de petróleo.
Imaginamos que o novo texto ficaria da seguinte forma:
Cria-se um arcabouço jurídico e institucional, que privilegia a competição, não importando se os agentes econômicos são nacionais ou estrangeiros. O fato de ser nacional não significa que deva ter algum privilégio em qualquer disputa.
O petróleo, o gás natural e os derivados devem ser considerados como simples commodities, que não possuem valor geopolítico e estratégico algum, ou seja, não possuem nenhuma atração além da rentabilidade.
Promovem-se leilões em que um único pagamento inicial pode definir a permanência de empresas produzindo petróleo em uma área durante até 35 anos, pagando parcelas mínimas de royalties e, quando for o caso de altas produções, de "participações especiais".
Facilita-se ao máximo a entrada de bens e serviços estrangeiros no setor, a pedido das empresas petrolíferas estrangeiras, isentando-os de impostos e taxas, que os nacionais não têm.
A cada oportunidade de fala à imprensa, deve-se realçar que as decisões da diretoria do órgão regulador são técnicas, significando que ele verifica a competição e o desempenho das empresas.
Nunca se toma uma decisão com o singelo argumento que ela irá beneficiar a sociedade brasileira.
O órgão regulador não é um órgão que deve implantar políticas públicas, nem deve levar em conta nas suas decisões que o Brasil é um país em desenvolvimento, com características culturais específicas e inserido no espaço geopolítico mundial.
Doma-se a estatal do setor, para, amofinada, não participar de leilões e permitir a entrega rápida de blocos para as empresas estrangeiras.
Neste momento, o golpe fatal pode ser dado com a privatização da Petrobras.
A íntegra.