A "grande" imprensa selecionou a primeira parte do discurso de Lula, mas há a segunda. Há vários Lulas: para os obtusos, para o povo, para os outros. Lula apavora os protofascistas porque não se esquece da segunda parte do discurso, intrinsecamente progressista, e provoca a ira dos que se consideram de esquerda porque abraça os reacionários.
Da Agência Carta Maior.
Lula enaltece legislativo, mas cobra reforma política ampla
Homenageado pela Câmara e pelo Senado, o ex-presidente destacou a importância do parlamento para a democracia
Por Najla Passos, de Brasília
O ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva retribuiu à altura as homenagens que lhe foram prestadas pela Câmara dos Deputados, nesta terça (29/10/13), quando foi agraciado com a comenda "Suprema Distinção", pela sua trajetória política inédita, e com a medalha Constituinte, pela sua participação na elaboração da histórica Carta de 1988.
Em um discurso ovacionado mesmo por parlamentares da oposição, o ex-metalúrgico dividiu com o congresso todos os méritos de seu governo. "Se o motivo desta homenagem é o resultado que obtivemos na presidência da República, quero compartilhá-lo, de coração, com os deputados que contribuíram para mudar o Brasil, incluindo mesmo aqueles que fizeram oposição ao meu governo", afirmou.
Lula também fez uma defesa apaixonada da capacidade de negociação, do respeito às decisões da maioria, do legislativo, da democracia e, consequentemente, da atividade política. "Não há nenhum momento da história, em nenhum lugar do mundo, que a negação da política tenha trazido algo melhor do que a política. O que aparece sempre quando se nega a política é um grupo praticando, na verdade, a ditadura", destacou.
Mas o ex-metalúrgico que se tornou presidente da república também cobrou da casa as reformas necessárias para consolidar esses 25 anos de período democrático e resgatar a vitalidade daquele congresso constituinte que andava em sintonia com os anseios da população. "Não podemos nos iludir. Apesar dos grandes serviços prestados pelo congresso, o sentimento difuso na população é que esta casa tem mais ouvidos para o poder econômico do que para a sociedade", provocou.
Para Lula, é imperativo que a casa enfrente o desafio de concretizar uma reforma política. "É de requalificar a democracia que estamos falando. E isso significa requalificar os partidos, diminuir a influência do poder econômico nas eleições e ampliar as formas de participação da sociedade no processo legislativo. É uma agenda que exige a coragem de romper com a acomodação, com velhos vícios, com o medo de mudar", provocou.
O ex-presidente cobrou também o combate ao fisiologismo, a defesa da fidelidade partidária e a redução do número de legendas. "Nada contribui tanto para desmoralizar a política do que vermos partidos atuando como reles balcão de negócios, alugando prerrogativas como tempo de propaganda e o acesso a fundos públicos". E defendeu, ainda, a democratização da mídia. "Essa mudança de qualidade no processo político eleitoral requer ainda o esforço para democratizar o acesso aos meios de comunicação. O direito à informação correta é outro requisito fundamental para o equilíbrio democrático na disputa eleitoral", acrescentou.
A íntegra.