segunda-feira, 12 de agosto de 2013

A revolução no Egito e os caminhos da democracia direta

Curiosa essa deposição de um presidente eleito no Egito. Do mesmo lado, militares e lideranças civis, entre as quais jovens que fizeram uma petição e conseguiram nove milhões de assinaturas a mais do que os votos que o presidente teve um ano antes. A mobilização, além de usar redes sociais, partiu do centro da capital para a os bairros da periferia. O fato é que as revoluções deste começo de século XXI têm características diferentes. Quem lê sobre a história dos séculos XIX e XX, vê a importância central dos partidos comunistas e da classe operária nas revoluções. Hoje, a classe operária não tem mais o protagonismo que tinha e o partido comunista não exerce liderança de massas. Mas revoluções continuam acontecendo, porque o objetivo que a humanidade persegue desde 1789, a democracia -- com igualdade, fraternidade e liberdade -- ainda não foi atingido. A democracia representativa, na qual o poder é exercido por políticos e juízes corruptos manipulados por lobbies, é um arremedo falido de democracia.

Do Opera Mundi.
Grupo de universitários e jornalistas deu início à deposição de Mursi no Egito
Por Marina Mattar 

"A constituição do Egito está suspensa e um gabinete de transição vai governar o país com o apoio dos militares até novas eleições." Foi com essas palavras que o general Abdel Fattah al-Sisi, ministro da Defesa e comandante das Forças Armadas, anunciou, no dia 3 de julho, em cadeia nacional, a deposição do então presidente do Egito, Mohamed Mursi, democraticamente eleito um ano antes.
Ao lado do general estavam presentes importantes personalidades políticas e religiosas do país, como o líder da Igreja Coopta egípcia, Pope Tawadros II, e Mohamed El Baradei, ex-chefe da AIEA (Agência Internacional de Energia Atômica da ONU) e opositor a Mursi. Entre os oficiais já conhecidos dos egípcios, vestidos com seus ternos e uniformes, uma nova face: sentado na última fileira e no canto, Mahmoud Badr.
Vestido com calça jeans e camiseta polo, o jovem, de apenas 28 anos, foi convidado pelo general a se levantar e dar sua declaração sobre um dos mais importantes acontecimentos da história política do Egito. "Nós queremos construir um Egito com todos e para todos", afirmou em cadeia nacional para milhões de telespectadores.
Descrito como a "nova face da revolução egípcia" pela mídia internacional, Badr é fundador e porta-voz do movimento Tamarrod (em português, rebelde), que está por trás das mobilizações contra Mursi. Além de ter conseguido 22 milhões de assinaturas em uma petição pedindo a deposição do presidente -- numero superior aos 13 milhões de votos em Mursi --, o grupo conseguiu levar mais de 30 milhões de pessoas para as ruas do país no dia 30 de junho em um grande ato contra o político da Irmandade Muçulmana.
"Eles iniciaram a segunda onda revolucionária no Egito", afirma a Opera Mundi o economista Samir Amin, que é também membro do Partido Comunista no país e uma figura influente na cena política nacional. "A campanha foi uma iniciativa extraordinária!", acrescenta ele, elogiando os jovens.
O grupo foi formado em abril deste ano por jovens jornalistas e universitários com o objetivo de reunir assinaturas contra o presidente da Irmandade Muçulmana, tendo o aniversário de um ano de sua eleição (dia 30 de junho) como data limite. "Nós não tínhamos certeza do número de assinaturas que conseguiríamos. Pensamos que talvez teríamos 5, 7 milhões ou, no máximo, 15 milhões. Foi uma grande surpresa o número que atingimos!", conta a Opera Mundi um dos membros do movimento, Mohamed Khamiis.
A ideia de lançar a petição veio de Hassan Chachine, de apenas 23 anos, depois de algumas conversas com amigos sobre a situação política no Egito. Os jovens acreditavam que a revolução estava começando a se afastar do povo, apesar da crescente insatisfação com o governo nacional. "Começamos a traçar uma estratégia para levar a revolução das praças públicas para os bairros, vilas, ruas, becos, mas sem usar a violência", explica Badr.
Batizada de Tamarrod em homenagem a um jornal sírio criado por jovens que lutam contra o presidente Bashar al Assad, a iniciativa foi divulgada pelos seus cinco fundadores nas redes sociais e, logo, se tornou popular entre a juventude egípcia. Qualquer pessoa interessada na ideia poderia imprimir a folha da petição e coletar assinaturas com seus amigos e vizinhos – desde que fossem eleitores registrados.
A íntegra.