O PT é o partido ônibus da esquerda brasileira, quem ficou de fora foi definitivamente para a direita ou se perdeu no caminho ou faz barulho sem resultados. Quem ficou dentro buscou (e busca ainda) caminhos conservadores, quase neoliberais, ou reformistas ou até revolucionários. As manifestações que começaram em junho passado foram benéficas para o PT, o tiraram da posição confortável e conservadora em que estava.
Da Agência Carta Maior.
Os desafios do PT numa nova concepção de frente
Tarso Genro
No momento que o PT discute o seu futuro e de certa forma os demais
partidos do campo da esquerda discutem-no também - tanto em relação ao
processo eleitoral do ano próximo, como em relação às estratégias para o
próximo período - quero sugerir que o meu partido faça o seu debate de
uma forma não tradicional. Não agende o seu discurso a partir de temas
relacionados
exclusivamente às divergências internas que nos preocupam, mas também --
e principalmente -- a partir da composição de um bloco de forças
econômicas e políticas que podem apoiar uma nova fase do processo da "revolução democrática", em curso no país: os trabalhadores, os setores
médios democráticos, os assalariados em geral, a juventude progressista,
os homens e mulheres trabalhadores do campo e os setores empresariais,
para os quais o aumento de renda dos mais pobres e as encomendas e
investimentos do Estado significam incremento na sua atividade comercial
a industrial.
Qualifico como "revolução democrática" o processo
concreto em que -- independentemente da nossa vontade ou vocação política --
não está em jogo a propriedade dos meios de produção, mas o seu
desenvolvimento para maximizar renda e emprego. Não está em jogo a
destruição do Estado, mas a sua reforma democrática no sentido de
combinar democracia direta com a representação política, para a
funcionalidade da representação da Constituição de 88; não está em jogo
qualquer "expropriação" de meios de comunicação, mas a sua
democratização e utilidade social; não está em jogo a possibilidade de
“golpes” de força contra a Constituição de 88, mas a sua degradação
progressiva, pela captura das instâncias da política pela força
normativa do capital financeiro, que degrada aquela esfera e a
utilidade dos partidos.
Sustento, portanto: o que está em jogo
no país é a hegemonia sobre o projeto democrático moderno, cujo reflexo
na estrutura de classes da sociedade e no comportamento dos agentes
políticos - dentro do Estado e fora dele -- é que vai determinar o
fundamentos do nosso futuro: o futuro próximo, que refere aos níveis de
coesão social e de igualdades -- desigualdades, sociais e regionais; e o
futuro mais remoto, que refere ao tipo de sociedade pós–capitalista e
pós-socialismo real, que iremos construir.
A íntegra.