O que mais tem nesta época é reflexão de Natal. São tantas que perdem o sentido, porque já sabemos o que vamos ler, e a motivação de ler é justamente não saber. Para ser uma boa leitura de Natal, portanto, é preciso surpreender. Esta me fez pensar nos 10 mil atleticanos no Marrocos, nos brasileiros que têm dinheiro para viajar ao exterior e ao voltar falarem mal do Brasil e do governo dos "mensaleiros"; naqueles que compram carrões supermodernos e supercaros para desfilar no trânsito congestionado ou morrer nas estradas estúpidas; nos cruzeirenses que gastam fortunas com foguetes para comemorar a derrota do Galo; enfim, nesse abismo de um mundo rico com tanto pobreza, de tanto conhecimento e tanta pobreza de espírito. E nos bilhões de seres humanos que passarão horas e horas em compras nos xópins e supermercados, preparando uma festa cujo sentido estamos sempre buscando.
Da CartaCapital.
O que é normal no capitalismo?
Por Rui Daher
A coluna se antecipa ao dia de Natal. Uma imagem consagrada como agrária. O que tínhamos naquele tempo. Homens e mulheres semeando e pastoreando terras para a sobrevivência e reprodução da humanidade.
"E o que temos para hoje?" Pouco mais. A placa na porta do boteco oferece felicidade com feijão, arroz, guisado, ovo frito.
Neste terceiro milênio, o Brasil se acredita em tom maior. O fulano do iate de cinco milhões de dólares, o sicrano com bilhões de seguidores nas redes sociais, os magotes brindando com champanhe Cristal nas festas de fim de ano.
Ao mesmo tempo, crescemos e voltamos a acreditar em Papai Noel.
De minha parte, penso num senhor negro de carapinhas brancas, terno cinza amarfanhado, gravata preta, que espera o ônibus vir célere pela faixa exclusiva. Lê um livro. Um olho nas letras pequenas outro nos destinos que se vão anunciando.
A íntegra.