Os dois melhores analistas políticos brasileiros escrevem sobre essa novidade na política nacional: o ódio aos políticos. A morte do governador petista Marcelo Deda foi comemorada, como antes a do ex-ministro Luis Gushiken, por pessoas que bradam chavões histéricos e são incapazes de dialogar. Ignorância e ódio andam juntas, são a alma do nazismo. Figuras públicas irresponsáveis chocam o ovo da serpente.
Do jornal GGN.
A morte de Deda e o exercício do ódio
Luis Nassif
Quando o delegado Romeu Tuma morreu, vetei qualquer celebração de sua morte aqui no blog. Custou-me ataques de radicais inescrupulosos.
Dá arrepio as celebrações pela morte do governador sergipano Marcelo Deda. Na última vez que estive com ele, alguns anos atrás, mostrou-me orgulhoso o filho caçula, com síndrome de Down, dizendo-me que era a alegria da casa.
Independentemente do caráter das pessoas -- e Deda era um homem e político digno -- um dos poucos sentimentos que unem homens e animais é o do constrangimento em relação à morte.
A íntegra.
Da CartaCapital.
Barbosa e o viés autoritário
Quem lida com pesquisa de opinião vê o aumento do número de eleitores que dizem odiar algo ou tudo na política
Marcos Coimbra
A figura de Joaquim Barbosa faz mal à cultura política brasileira. Muito já se falou a respeito de como o atual presidente do Supremo conduziu o julgamento da Ação Penal 470, a que trata do “mensalão”. Salvo os antipetistas radicais, que ficaram encantados com seu comportamento e o endeusaram, a maioria dos comentaristas o criticou. (...)
Quem lida com pesquisas de opinião, particularmente as qualitativas, vê avolumar-se o contingente de eleitores que mostram odiar alguma coisa ou tudo na política. Não a simples desaprovação ou rejeição, o desgostar de alguém ou de um partido. Mas o ódio.
É fácil constatar a difusão do fenômeno na internet, particularmente nas redes sociais. Nas postagens a respeito do cotidiano da política, por exemplo sobre a prisão dos condenados no "mensalão", a linguagem de muitos expressa intenso rancor: vontade de matar, destruir, exterminar. E o mais extraordinário é que esses indivíduos não estranham suas emoções, acham normal a violência.
Não se espantam, pois veem sentimentos iguais na televisão, leem editorialistas e comentaristas que se orgulham da boçalidade. Os odientos na sociedade reproduzem o ódio que consomem.
Isso não fazia parte relevante de nossa cultura política até outro dia. Certamente houve, mas não foi típico o ódio contra os militares na ditadura. Havia rejeição a José Sarney, mas ninguém queria matá-lo. Fernando Collor subiu e caiu sem ser odiado (talvez, apenas no confisco da poupança). Fernando Henrique Cardoso terminou seu governo reprovado por nove entre dez brasileiros, enfrentou oposição, mas não a cólera de hoje.
O ódio que um pedaço da oposição sente atualmente nasce de onde? Da aversão (irracional) às mudanças que nossa sociedade experimentou de Lula para cá? Do temor (racional) que Dilma Rousseff vença a eleição de 2014? Da estupidez de acreditar que nasceram agora problemas (como a corrupção) que inexistiam (ou eram "pequenos")? Da necessidade de macaquear os porta-vozes do conservadorismo (como acontece com qualquer modismo)?
Barbosa é um dos principais responsáveis por essa onda que só faz crescer. Consolidou-se nesse posto nada honroso ao oferecer ao País o espetáculo do avião com os condenados do "mensalão" rumo a Brasília no dia 15 de novembro. Exibiu-o apenas para alimentar o ódio de alguns.
A íntegra.