Ou Natal na História.
Está fazendo um século que começou a Primeira Guerra Mundial. Ela pôs fim ao (mundo do grande) século XIX e inaugurou (efetivamente) o (pequeno) século XX, nas palavras do historiador Eric Hobsbawm. Na minha interpretação, e não só minha, nos mergulhou na barbárie da qual ainda não saímos, nem no século XXI. O capitalismo não é capaz de dar à humanidade um mundo melhor, mas não fomos capazes de inventar um sistema melhor.
Da Revista de História da Biblioteca Nacional.
A trégua natalina
No primeiro natal da Grande Guerra, soldados de exércitos rivais deixaram as trincheiras para confraternizar. Inspirado em fatos reais, filme europeu retrata a vida de alguns combatentes neste momento da batalha
Marcelo Scarrone
No próximo ano comemoraremos o centenário do início da Primeira Guerra Mundial (1914-1918), como passou a ser definida pela historiografia, ou a Grande Guerra, como foi apelidada na linguagem popular, devido ao cenário de devastação e morte que trouxe consigo e ao abismo de desespero e desatino provocado por um conflito que penetrava como uma faca no coração da civilização europeia, a da Belle Epoque, que se acreditava finalmente isenta de violência e ódios nacionais. Um conflito, com efeito, que mobilizou milhões de pessoas, tanto moradores de cidades quanto simples camponeses, de França, Reino Unido, Alemanha, Áustria, Rússia, mas também Itália e estados balcânicos, entre outros. E que se caracterizou, desde seu começo, como uma longa, extenuante e alucinante guerra de posição, tendo as trincheiras como cenário principal.
O inimigo presente a poucas centenas ou dezenas de metros, vigilante como você, prendendo a respiração como você, lutando contra fome, frio e ratos, como você, entre uma rachada de metralhadora, um cigarro e uma carta para casa. A vida de trincheira, de um lado e do outro, apresenta os mesmos dramas e os mesmos ritos de sobrevivência.
Homens, afinal, iguais em seus desejos últimos e em suas esperanças, mesmo que trajando uniformes diferentes ou falando idiomas diversos.