terça-feira, 3 de dezembro de 2013

A perseguição de Zezé Perrella à repórter mineira

Aprendeu com Aécio. Político mineiro está acostumado a mandar na imprensa e a imprensa mineira está acostumada a obedecer. Quando aparece uma Amália Goulart escrevendo a verdade vira uma afronta. Para quem não entende como funciona uma redação: a coisa mais comum é um repórter que produz uma boa matéria sobre um assunto ou uma figura pública receber novas pautas sobre os mesmos, justamente porque tem conhecimento e fontes. Isso não é perseguição, como diz o senador. O que deve causar espanto é, diante de reportagens tão relevantes, outros jornais e repórteres não entrarem no assunto, competindo para informar melhor, e dessa forma diluírem essa suposta "perseguição".

Do Diário do Centro do Mundo.
"Vai ter retaliação": a mulher mais temida por Zezé Perrella, o dono do helicóptero flagrado com cocaína
Kiko Nogueira

Amália Goulart, 31 anos, repórter do jornal mineiro Hoje em Dia, é a mulher mais temida pelo senador Zezé Perrella (PDT), aquele cujo helicóptero foi flagrado com 445 quilos de cocaína no Espírito Santo.
"Ele ligou para algumas pessoas falando que eu o perseguia", diz ela. "Não tenho nenhuma questão pessoal com ele. Faço apenas jornalismo. Não é culpa minha se Perrella tem vários processos."
O problema de Zezé com Amália começou em 2011, depois de uma bela matéria sobre a fazenda do político e empresário em Morada Nova de Minas, a 300 quilômetros de Belo Horizonte. Ela está avaliada em 60 milhões de reais. Amália passou alguns dias na região, entrevistando funcionários e tentando falar com o dono.
Ele ligou finalmente numa sexta-feira, por volta da meia-noite, e não estava contente. "Ela vale muito mais. Não é só isso. Estou doido para pegar um jornalistazinho assim, igual a você. Isso vai ter volta. Vai ter retaliação", afirmou. "Doei todos os bens para meus filhos há oito, nove anos."
Diz a reportagem:
"A Fazenda Guará é banhada pelas águas da represa de Três Marias, no Rio São Francisco. Produz grãos e tem aves, suínos e gado. A granja é climatizada. 'Perrella tem 1,3 mil matrizes (fêmeas reprodutoras)', disse um funcionário. Uma porca gera em média 8 filhotes a cada gestação. Por dia, saem quatro caminhões da fazenda carregados de suínos para o abate. Parte da carne é exportada.
As pastagens para o gado, na maioria da raça nelore, estão na margem do São Francisco. Quem está do lado de fora da propriedade pode avistar centenas de animais da raça espalhados. O curral é informatizado. 'Ele (Perrella) costuma participar de leilões', contou um profissional da área.
Diariamente, saem da Guará caminhões carregados de arroz, trigo, feijão, milho e soja. Num intervalo de aproximadamente três horas, o Hoje em Dia flagrou quatro caminhões sendo carregados e despachados da fazenda. Grandes silos compõem a paisagem opulenta da propriedade."
(...) Os imbróglios de Perrella com a Justiça são famosos em Minas, mas ele era tido como relativamente intocável graças à sua amizade com Aécio Neves (que é, aliás, blindado pela mídia local). "Perrella tem diversos laranjas e coloca as empresas no nome deles", conta Amália. No ano passado, ela publicou uma matéria a respeito de uma investigação do Ministério Público sobre um esquema de superfaturamento de merendas e marmitas para presídio. O estado de Minas contratara, sem licitação, a Limeira Agropecuária para fornecimento de grãos para um programa desenvolvido para regiões carentes como o norte de MG e o Vale do Jequitinhonha. A operação, denominada "Laranja com Pequi", revelou que o desvio de recursos públicos envolvia também o Tocantins.
Em fevereiro deste ano, Amália escreveu que o irmão de Zezé, Gilmar de Oliveira Costa, fora indiciado sob a acusação de adulterar o peso e o valor nutricionais de carnes fornecidas a órgãos públicos por meio de licitação, além de formação de quadrilha.
A íntegra.