quinta-feira, 16 de fevereiro de 2012

Aos 32 anos, PT belo-horizontino agoniza?

A sequência de textos e comentários abaixo, publicados no blog Fora Lacerda, mostra um pouco das contradições do PT e como ele é visto em Minas. O partido deu as costas para os movimentos sociais, pratica o que condenou e comemora aniversário em restaurente chic, com entrada a R$ 100. Sem as bases sociais que lhe deram origem e sem as bandeiras diferenciadas que levantou, o que é o PT? Um partido eleitoral como os demais, um partido de centro, tendendo para a direita. Se o PT não é mais o mesmo, cresce um movimento de jovens combativos que resiste ao pensamento único que impera em Belo Horizonte desde 2008, quando o PT entregou a prefeitura para o PSDB, com a intermediação do PSB.

Do blog do Movimento Fora Lacerda!
"Festejando" o aniversário do PT
Publicado em 14/2/2012
Lacerdinha foi, Lacerda não!
Foi um protesto animado e bem-humorado. O #OcupaBH, o Manifesto Apartidário e o Ocupe a Câmara, unidos ao Movimento Fora Lacerda! foram para a porta do restaurante Villa Giannina recepcionar os petistas que comemoravam os 32 anos do partido com um jantar dançante. Lá não estávamos para cobrar nada deste partido, que um dia foi dos trabalhadores, e hoje é dos "consultores" da Fiemg e dos "conselheiros" da Fiesp. Lá estávamos para denunciar esta aliança espúria, ilegal e sem lógica, que fez o empresário neofascista, Márcio Lacerda, prefeito de Belo Horizonte. Esta aliança espúria que, sem nenhuma explicação lógica, que não seja a chantagem, quer reeditar a parceria indigna e tentar reeleger o pior prefeito que Belo Horizonte jamais teve: mal intencionado, arrogante, higienista e autoritário. O prefeito propaganda: 37 milhões de reais para divulgar falácias e calar a "grande imprensa". Recepcionamos todos os que chegavam, nenhum fernandinho, reginaldo ou virgílio escapou. Riso falso, constrangido, todos vestiram o manto alaranjado. Toda a estratégia montada com o fito de criar um "momento mágico" para que Patrus Ananias, o conselheiro da Fiesp, anunciasse seu apoio à aliança, ruiu. O discurso de Rui Falcão, em defesa da aliança, caiu no vazio: Lacerdinha foi, Lacerda não! A imprensa esteve lá, nós a vimos, falamos com ela, mas Lacerdinha foi, nós fomos, Lacerda não. Melamos a festa! Hoje, nos ditos grandes jornais, nada, nada será dito, insinuado ou comentado. Para falar da festa programada pelos caciques do PT para iludir a população, e defender o indefensável, teriam de contar: Lacerdinha foi, Lacerda não! Teve até trenzinho Fora Lacerda! na porta do restaurante. E isto, sabemos, eles não podem contar, afinal, 37 milhões não são 20 contos de réis…

"Aqueles 20 manifestantes pagos"
Publicado em 15/2/2012
Por deliberação do grupo e para conhecimento de todos, transcrevo abaixo a mensagem enviada para uma lista de partidários, pelo Sr. Glênio Martins, coordenador geral do PT na Região Metropolitana e membro do Diretório Estadual do PT-MG, sobre a nossa participação, juntamente com os companheiros do #Ocupa BH, Ocupa a Câmara e Manifesto Apartidário, na manifestação de 13/2/2012 em frente ao restaurante Villa Giannina. Quem desejar responder ou comentar a mensagem do Sr. Glênio, pode enviar um e-mail para ele ou usar o espaço de comentários dessa postagem.

Primeiramente gostaria de analisar um aspecto deste texto. Os que escrevem afirmam que o PT não é mais um partido da classe trabalhadora. Ainda afirmam que a aliança com o prefeito Márcio Lacerda é sem lógica e ilegal. Discordo, acima de tudo porque a aliança entre PT e PSB é parte de um processo histórico em Belo Horizonte, iniciado em 1992. Discordo ainda mais quanto a legalidade ou não, tal ponto é tão desprovido de argumentação lógica e juridica que nem merece aprofundamento. A impressão que fica é a de que aqueles 20 manifestantes pagos, na porta do restaurante, não são eleitores do PT e não acreditam no projeto socialista. A crítica que eles constroem é pela direita, além do que não percebi nenhuma liderança social das vilas e favelas de Belo Horizonte, nenhuma liderança sindical e nenhuma liderança realmente popular. Eram apenas 20 pessoas, que por mais que eu considero legítimo, sagrado e saudável a manisfestação politica, cabe a nós do PT a reflexão a serviço de quem, de que e qual o propósito de uma ação tão despolitizada, nada propositiva e que agride somente ao PT. Aqueles que contribuem e dão coro a este tipo de movimento estão atacando a política, estão diminuindo o PT com discursos simplistas e sem fundamentação ideológica. Vale lembrar dos adesivos que estão circulando pela cidade com os dizeres "Sou PT e não me vendo". Aos poucos nossa maturidade política permite que nós possamos nos posicionar com mais certezas, mais clareza e convicção do que esta em curso. O futuro desta aliança é uma decisão que cabe à militância do PT, sendo qualquer outra organização parte estranha neste processo, mas podendo livremente se manifestar e influenciar a política. Continuo acreditando que o momento é de diálogo, e a ausência deste diálogo só favorece o autoritarismo, o sectarismo e as posições despolitizadas e fanáticas. Temos que reforçar a agenda de debates interna com os debates regionais e temáticos sobre a cidade, precisamos apresentar a nossa pauta ao PSB e ao prefeito antes de tomarmos qualquer decisão sobre uma candidatura própria. Vencida esta etapa, teremos a certeza de que conduzimos um processo com muita lucidez. Caso tenhamos candidato próprio, cabe a nós encontrarmos um nome realmente capaz de representar com equilibrio o PT, e as forças populares da cidade. De representar nosso projeto e estabelecer se este for o desejo da maioria uma real diferenciação e separação de projetos politicos para Belo Horizonte.
Glênio Martins, coordenador geral do PT na Região Metropolitana.
Membro do Diretório Estadual do PT-MG
gleniomlm@yahoo.com.br

Rafael Barros: Carta aberta ao "Coordenador Geral do PT"
Publicado em 16/2/2012
Prezado Glênio Martins,
Peço licença para responder seu comentário, copiado abaixo, que foi encaminhado na data de hoje para um grupo de pessoas que posteriormente passei a fazer parte. Recebi sua mensagem, sem, contudo me ter sido possível ler a primeira carta que motivou sua resposta. Mas não considero necessário lê-la. Escrevo não como militante e/ou filiado petista, mas como membro do grupo ou movimento que esteve na porta do restaurante onde foram comemorados os 32 anos do PT. Escrevo para refutar uma acusação inverídica e que só pode ter sido motivada por uma prática, infelizmente outrora tão combatida pelo "partido dos trabalhadores", mas que hoje faz parte de suas condutas mais triviais.
Um: faltar ao compromisso da verdade ou levantar acusações infundadas é uma prática há muito conhecida na história do País. Sempre foi a prática dos poderosos, dos rancorosos e dos ressentidos num jogo de encobrir fatos reais a partir de situações ou condutas falaciosas. Não houve naquela ocasião participação de manifestantes pagos. Nós que ali estávamos, apesar do seu desconhecimento, fazemos parte, sim, da cidade, de movimentos sociais, de sindicatos e somos também moradores de vilas e favelas, mas também da zona Sul, da zona Oeste, Leste, Nordeste, Barreiro, Venda Nova… Nós somos a voz dos descontentes, única oposição real e efetiva aos desmandos do atual governo (PSB/PT) sem necessitar, contudo, de uma organização vertical, de uma arregimentação partidária. Talvez o desconhecimento disso parta de um distanciamento que seu partido tem hoje desses grupos e movimentos, um dia tão caros a ele.
Dois: já fui filiado ao PT e um bravio militante. Mas a conduta partidária me levou ao seu distanciamento por motivos que você, aqui, nos acusa. Um exemplo: o de não acreditarmos no projeto socialista. Ora Glênio, você acredita mesmo que o partido que um dia promoveu grandes churrascões "de gente diferenciada" e hoje comemora seu aniversário a portas fechadas, numa glamurosa cantina da capital mineira, com ingressos limitados ao valor de $100 reais é o grande exemplo de projeto socialista? Ouvi ontem de Antônia, uma petista aguerrida, que o PT deixou de ser um partido há muito tempo. Argumentava ela: "como posso crer que esse é de fato um partido já que a muito abandonou suas instâncias democráticas de decisão. Onde caciques e mandatários impõem seus interesses à maioria, onde os mandatos tem mais força e voz do que sua base de sustentação, onde o projeto de poder atropelou o projeto político?" Não preciso aqui relatar aos de dentro como se dão os processos de filiação a cabresto, as votações compradas, as imposições da cúpula nacional, a inserção de políticos sem nenhum histórico de luta e resistência e com práticas eleitorais abomináveis… A questão que se coloca não é se o PT continua sendo ou não um partido dos trabalhadores. A questão que se coloca é quando o partido vai construir a consciência de que ele já não é mais aquele partido dos trabalhadores. Assumir essa realidade é fundamental para que ele pense a si mesmo e possa se redefinir ou terminar de se destruir. Três: O candidato Márcio Lacerda nunca foi uma opção para a cidade. Ele é uma imposição à cidade. Uma imposição por parte de duas forças políticas hegemônicas. Ele é a figura máxima da desintegração da democracia. Sua eleição foi resultado do abuso de poder político e econômico, da aliança de forças políticas antagônicas, mesmo em caráter informal que, segundo os ditames legais, houvesse nesse país e nessa cidade justiça de fato, impediriam sua eleição. Ele é resultado daquilo que sempre combatemos historicamente: uma política provinciana, coronelista, sem rastros no seio da sociedade. E por mais que muitos discordem de mim, é impossível separar a figura humana do homem político. Quem teve a oportunidade, como eu, de se confrontar com o Sr. Márcio Lacerda pode perceber que sua visão de mundo é limitada, elitista, pragmática, distante da de um homem público, carregada de preconceitos e imposições. Essa é marca da atual administração. Marca que desconheço como sendo a de um projeto socialista, igualitário e humano. Contudo companheiro, a grande questão que se coloca é se de fato uma aliança entre o PT, PSB e PSDB é uma questão do partido ou uma questão da cidade. Se o PT ainda guarda em suas raízes as características que você reclama é necessário que ele escute quem de fato é sua razão de ser: a sociedade. Você se equivoca porque é justamente uma aliança dessa natureza que assassina a política, destrói os conflitos, dilui as diferenças constitutivas de forças políticas tão díspares. Essa aliança transforma nosso mundo desigual em uma única massa amórfica fazendo, uma vez mais, os miseráveis se submeterem aos poderosos. Pergunto: qual é a grande preocupação do PT – é a de ganhar as eleições, de se manter no poder, ou lutar por um projeto político transformador? Bem, essa é uma questão do partido. Nós, aqueles 20, mas muitos outros, muitos mais, já definimos nossa escolha. E temos também nosso projeto de cidade. Estamos nas ruas e em outros tantos espaços lutando por algo que ainda acreditamos. A vocês cabe a escolha de revisitar o passado e assumir um caminho. Ou rompem com esse lógica que todos sabem, não levou a lugar nenhum, ou entreguem de uma vez a cidade para o PSDB, para o Aécio Neves, e se enterrem. Não preciso lembrar como foi a votação da presidenta Dilma em BH nos dois turnos, não é mesmo? Saudações com respeito! Rafael Barros

Jussara Noronha disse (16/2/2012 às 12:22):
Ontem na reunião de mulheres do PT é que me inteirei do que houve no tal ridículo baile. Antes que ele acontecesse protestei veementemente contra tal coisa. Pedi que os tais 100 reais que seriam gastos por quem pode pagar fossem destinados a fazer uma festa pra todo mundo. Quantos músicos contribuiriam com sua participação num aniversário do PT? Quantas vezes na vida comemoramos nossas vitórias ou choramos nossas perdas com um violão e um banco de praça? Ao contrário de outras pessoas desiludidas não vou sair do PT não. Ele não é somente uma vitória dos trabalhadores não. Ele é o preço de muitas vidas de muitos colegas, dos estudantes de minha geração. Foi correndo da polícia, cachorros, cassetetes, e também paus-de-arara, torturas, surras e assassinatos que o sopro de vida do PT surgiu. Não vou sair e vou lembrar a todo mundo os nomes dos verdadeiros heróis dessa nação. Devo isso a eles e a mim mesma. "Já faz tempo eu vi você na rua, cabelo ao vento gente jovem reunida. Na parede da memória essa lembrança é o quadro que dói mais!" E agora? Todo mundo engravatado, empolado, cochichando, mancomunando. Exatamente porque sou PT não vou sair. E vou gritar pelas liberdades democráticas como aprendi de pequena. Esse ridículo bailinho de "Glamour Girl" mostrou quem envelheceu, pendurou as chuteiras, se acomodou nas poltronas. Se finalmente uma daquelas meninas que esteve na cana, apanhou, enfrentou, é hoje nossa presidenta, uma das figuras mais importantes do mundo, respeitada por céus e terra, para que c… precisamos fazer alianças com a direita feroz? Se todo mundo dentro e fora do PT já sabe disso por que precisamos baixar a cabeça, falar baixinho e aceitar a autoridade já bolorenta de certos correligionários? "Minha dor é perceber que apesar de termos feito tudo, tudo que fizemos…" Fora Lacerda! Fora alianças espúrias! Fora conversinha fiada. Já temos o Robertinho que ademais de ser nosso líder, já tem experiencia e está consciente de todo o processo no cargo de vice. Já temos os melhores cérebros do país. E mais, não precisamos dos monstros velhos da publicidade para lutar contra a máquina financeira de Aécio Neves não. Graças à luta de nossos trabalhadores, seus filhos desde criancinhas dominam a tecnologia. É só ir nas Lan Houses das favelas e ver a molecada fazendo coisas que até o Deus duvida. Duvida mas apóia e dá cada vez mais oportunidades a essa terra bendita. Fora abomináveis senhores das trevas! Esquerda volver! "Vem vamos embora que esperar não é saber, quem sabe faz a hora não espera acontecer". Falei e falo mesmo! Foi assim que aprendi. Deixo aqui a minha homenagem a Chico, Caetano, Gil, Vandré, Henfil, Betinho, guerrilheiros do Araguaia, D. Eleonora Menicucci (agora nossa ministra, ex-militante torturada, haha), os meninos Westin Cozenza e todos os heróis anônimos que estão no Brasil Nunca Mais. Tucanos, lembram de um samba famoso? Na tonga da mironga do caburetê!

pedro thiago disse (16/2/2012 às 15:20):
Nascido em meio a militância do PT no Barreiro, cresci com um sentimento de paixão pelo partido. Foram inúmeras vezes que participei com meus pais de atos políticos, greve na Mannesman, na porta da PBH, reuniões do diretório, eleição nos sindicatos dos bancários…
Inclusive, meu próprio nome carrega esse sonho, as iniciais são PTS, segundo meus pais foram subtraídos sobrenomes para formar as siglas de PT Saudações. Pedro Thiago Silva. Senti a dor de toda uma geração nas eleições de 89, mesmo sem entender direito percebia que era um duro golpe da realidade (plim-plim) ao sonho. Eu cresci com esse sentimento, petista, um sentimento de transformação social. Aos 20 anos não entendia por que meus pais, minha avó, Dona Berta e muitos amigos haviam deixado o partido. Como pessoas que lutaram tanto pela construção de um Partido, podem abandoná-lo após o primeiro ano do Governo Lula? Ainda não haviam estourado os maiores escândalos do governo petista, mas a coisa já fedia. O que ficou evidenciado quando o PT optou por manter o jogo de domínio parlamentar, já estabelecido para reeleger FHC, entre outras práticas tão combatidas anteriormente. O PT abriu mão de seu projeto político a troco da base aliada, dos acordões e de repente, figura ao lado de Lula um homem que por toda minha vida era satanizado, dos jornais sindicais aos informativos do Dieese: Jose Sarney. Então passei a compreender a debandada dos militantes sonhadores… toda uma geração havia sido traída. Já na minha geração, o PT, em Belo Horizonte, sofisticou as alianças espúrias. Lança em Belo Horizonte um sujeito completamente desconhecido dos movimentos sociais e por muitos na base do partido: Márcio Lacerda. Um chapa branca para concretizar o projeto de poder de Pimentel e Aécio Neves. Pimentel, que inclusive é amigo próximo de Dilma, que era a candidata de Lula, que não se impuseram contra essa aliança e depois disso, o ex-prefeito foi agraciado com um Ministério no governo Dilma. Dilma não sabia? Lula não sabia? Seria essa aliança uma espécie de encubadora para um projeto nacional? Como o PT cede espaço ao PSDB na terceira capital do País? Felizmente, há jovens cientes do que já foi o PT, mas têm certeza de que não o querem da forma como está. Ao abandonar sua ideologia primeira o PT criou uma nova consciência política, criada por ele lá trás e que agora não têm problema e fazem questão em questioná-lo. continuemos a conversa.