domingo, 5 de fevereiro de 2012

E Pimentel sobreviveu ou o equilíbrio petista

Já estamos em fevereiro, já caíram mais dois ministros, mas o do Desenvolvimento, Indústria e Comércio Exterior, Fernando Pimentel, continua no cargo. Não que as denúncias feitas contra ele tenham sido menos graves ou infundadas -- eram similares àquelas que derrubaram o ex-ministro Palocci e, afinal, nada ou pouco foi provado contra os oito que caíram. As quedas foram patrocinadas pela velha imprensa. É evidente que Pimentel, amigo de juventude da presidente e escolhido na sua cota pessoal de auxiliares, foi, como se diz, "blindado" por ela (e provavelmente, talvez provisoriamente, pela própria imprensa -- Pimentel está à frente de um dos ministérios do capital). Com isso ela também fortaleceu em Minas a ala do PT que é próxima do senador Aécio, do governador Anastasia e do prefeito Lacerda, o novo centro que se forma em torno do PSB. Mantendo a condição de maior liderança petista mineira, uma vez que a outra que rivalizava com ele, o ex-ministro Patrus Ananias, entrou em eclipse, Pimentel indica que partido é esse que sobrevive no estado, apesar da resistência do vice-prefeito Roberto Carvalho: um partido ligado ao empresariado e não mais aos movimentos populares que lhe deram origem. Pimentel recebeu R$ 1 milhão da Fiemg, basta dizer isso -- mas também não se pode deixar de acrescentar, com certa perplexidade, que Patrus é conselheiro da Fiesp. Ao contrário do Rio Grande do Sul, onde o PT governa e o governador Tarso Genro defende uma rearticulação da esquerda, o PT mineiro não resistiu a ser oposição no estado enquanto governa o País. A questão política dos próximos anos será se o PT caminha para ocupar esse centro defendido pelo PT mineiro ou a esquerda indicada pelo PT gaúcho. A belo-horizontina Dilma fez carreira política no RS, mas parece mais próxima de Pimentel do que de Genro. Ao mesmo tempo, quem emerge como liderança petista nacional é outro governador: o da Bahia, Jaques Wagner. Ao dar o passo que deu em 2002, o PT decidiu se tornar o verdadeiro partido social-democrata brasileiro, o partido do capital com sensibilidade social -- atende a demandas históricas de distribuição de renda e acesso da maioria da população aos bens essenciais, mas é o partido do capital, contemplado com obras, juros, empréstimos, subsídios e políticas específicas diversas. O lema do governo petista, que Lula inaugurou e Dilma continua, é "crescimento", e crescimento é sinônimo de capital: capital é o dinheiro que "cresce", que aumenta ao ser investido. Enquanto a economia cresce, o capital está satisfeito, ainda que o governo -- todo governo capitalista -- tenha de satisfazer diversos setores do capital cujos interesses costumam ser divergentes. Com isso é obrigado a fazer escolhas entre eles e gerar oposições. Enquanto a economia cresce também sobra dinheiro para atender as demandas históricas dos setores populares, que afinal são a razão de ser do PT e que lhe deram origem. Este é o sentido do "desenvolvimentismo", que o Brasil inaugurou na década de 1950, que a ditadura militar continuou e que o PT retomou: ele faz "o bolo" capitalista crescer. A diferença é que a ditadura pregava a "distribuição" do bolo depois do crescimento, enquanto o PT faz a distribuição do bolo durante o crescimento. Ao contrário de outros governos de esquerda latino-americanos, não faz parte da agenda petista, enfrentar o capital, por isso o crescimento é fundamental: sem ele, seria preciso tirar dos ricos para distribuir aos pobres; com ele, distribuem-se as novas riquezas. O PT ocupou o lugar que cabia ao PSDB na política brasileira -- lugar que o PSDB abriu mão de ocupar quando aderiu ao neoliberalismo -- e com isso empurrou os tucanos ainda mais para a direita. Recriou assim um velho quadro da política brasileira, recorrente desde o Estado Novo: um centro reformista no poder, atacado violentamente pela direita e incitado pela esquerda. A novidade é a competência que Lula teve (e Dilma parece ampliar) para seduzir os empresários e acalmar os trabalhadores -- embora entrando em conflito frequente com ambientalistas e outros movimentos sociais. O espaço de ação para a direita ficou muito reduzido, talvez por isso ela tenha se radicalizado, chegando a namorar o fascismo, como acontece com os tucanos paulistas. Assim, com habilidade política, costurando esse novo centro e contando com um pouco de sorte na sempre imprevisível economia internacional, o PT poderá permanecer no poder por vários mandatos mais -- com Dilma, Lula ou Wagner. Sua característica, no entanto, muda -- já mudou: em vez de um partido sustentando por movimentos e organizações populares, passa a ser um partido com forte apoio popular difuso, da população que não se organiza e se manifesta basicamente nas eleições. Tende a deixar vazio, no entanto, o espaço que ocupava e que ainda não foi vigorosamente ocupado, o da esquerda. PSTU, PSOL e PCdoB, os partidos de esquerda (isto é, aqueles que pretendem estar ligado aos movimentos sociais, ao contrário de outros, como o PSB e o PPS, que não têm essa pretensão, embora se autodenominem "socialistas"), não se tornaram capazes por motivos diversos, de conquistar a simpatia dos pobres e ao mesmo tempo levantarem bandeiras de mudanças, como fez um dia o PT. O desafio do PT é outro: formar uma nova geração de políticos para suceder a atual, constituída basicamente dos fundadores: a esquerda que emergiu nos anos 60 e 70, com vigor e brilhantismo ausentes nas novas gerações de petistas.

Sexta-feira, 3 de fevereiro de 2012
Brasil e México vão renegociar acordo automotivo
A presidenta Dilma Rousseff e o presidente Felipe Calderón acertaram hoje (3/2/12), por telefone, que serão revistos os termos do acordo automotivo entre Brasil e México. O governo brasileiro, segundo o ministro do Desenvolvimento, Indústria e Comércio Exterior, Fernando Pimentel, defende o aumento do conteúdo regional na produção dos veículos nos dois países e a ampliação do acordo para que sejam incluídos caminhões, ônibus e utilitários, e não apenas carros de passeio. Para o ministro, a mudança poderia "melhorar o saldo que hoje é totalmente negativo para o Brasil". "O acordo é desequilibrado, mas há um enorme interesse do México em mantê-lo", disse Pimentel.
A íntegra.