Tem imóvel desocupado no Centro de São Paulo, tem terreno com 6 mil moradores em Pinheirinho, mas governantes que, em campanha eleitoral, prometem resolver o problema da moradia, desalojam deles quem não tem onde morar e para isso usam a violência policial. Em nome de que? Da propriedade privada. Quer dizer que o direito de se manter um imóvel vazio caindo ao pedaços é maior do que o direito de pobres morarem? Quer dizer que o direito de um milionário que quebrou as bolsas e prejudicou milhões e a própria economia nacional é maior do que o de milhares de famílias? É. Provavelmente, o terreno que abrigava 6 mil pessoas vai abrigar talvez 60, num condomínio de luxo. Pobre morar no Centro? Pobre morar em terreno valorizado? Pobre é para morar na periferia, ficar escondido durante a Copa e os Jogos Olímpicos. Pobre é para levar três horas se locomovendo até o trabalho. Esta é a lógica que os governos do estado e do município de São Paulo estão nos ensinando. Mostram para quem trabalham, demonstram a quem a PM serve. Por que, em vez de se construir mais conjuntos habitacionais em áreas distantes ou terrenos que poderiam ser praças e áreas verdes, para impedir catástrofes nas chuvas, a política habitacional não promove a ocupação de imóveis vazios como este? Por que não promove a desurbanização e a desconcentração urbana? No meio rural brasileiro vivem hoje 15% da população, quando, em 1950, viviam 64%! Não falta terra, mas ela foi concentrada nas mãos da monocultura exportadora, vulgo "agronegócio". A acelerada migração para as cidades serviu aos latifundiários e criou esses monstrengos que são as cidades brasileiras. Sem planejamento, os migrantes vivem entulhados nas periferias sem os prometidos benefícios do "progresso", servindo de farta mão de obra barata para a indústria. Os problemas (moradia, educação, saúde, transporte, esgoto etc.) se tornaram gigantescos e suas soluções, caríssimas, mas quem está interessado nelas? A política habitacional prefere dar obras (e dinheiro) para construtoras, em vez de promover o bem comum. Como disse o presidente Lula: "Somos eleitos pelos pobres, mas são os ricos que têm acesso aos gabinetes".
Do blog Pela Moradia.
Prefeitura segue com campanha de "higienização" do Centro de São Paulo
Por Vinicius Souza e Maria Eugênia Sá
A prefeitura de São Paulo, com apoio da Justiça estadual e da Polícia Militar, continua a todo o vapor em sua política de impedir a ocupação de imóveis abandonados na centro da cidade e de retirada das pessoas que insistam em lutar pelo direito constitucional de moradia em uma área que já possui toda a infra-estrutura de saúde, transporte e educação. Na noite dessa quinta para sexta-feira (9 a 10 de fevereiro) o alvo foi o antigo Hotel Pão de Açúcar, localizado na Rua Conselheiro Nébias, 314, esquina com a Rua Vitória. No edifício sem uso há quase dez anos, segundo a ex-moradora Rita de Cássia Pereira, viviam 178 famílias, incluindo 78 idosos, 98 crianças e três deficientes físicos. Depois da desocupação dos casarões e prédios usados como refúgio para usuários de crack em janeiro, classificada pelo Ministério Público como desastrosa, um a um estão sendo "reintegrados" (ou seja, entregues aos "donos" para continuarem lacrados e sem uso) os dez edifícios ocupados por famílias ligadas a movimentos como o MSTC ? Movimento dos Sem Teto do Centro e a FLM? Frente de Luta por Moradia em novembro de 2011. A mais rumorosa foi a reintegração de posse do último dia 2 de fevereiro, que levou 230 famílias a montarem acampamento na calçada da Avenida São João, em frente a um antigo cine pornô, quase na esquina com a Avenida Ipiranga, local que ganhou destaque na MPB com a música Sampa, de Caetano Veloso. Sem poder impedir à força que as cerca de 120 crianças da ocupação ficassem na calçada com as mães, a PM e a CGM -- Guarda Civil Metropolitana destruiram na própria quinta, 2 de fevereiro, os abrigos de madeira improvisados para amenizar o calor e proteger da chuva.
A íntegra.