domingo, 16 de junho de 2013

As copas, a liberdade e a ditadura

No momento em que o País se encontra sob uma espécie de estado de sítio imposto pelo governo federal por exigência da fifa -- que reprime com violência protestos contra os desmandos feitos em nome das copas, proíbe manifestações de trabalhadores, festas juninas em espaços públicos, estacionamento de carros nas portas das casas nas imediações dos estádios, venda de acarajé e qualquer comércio que concorra com os dos patrocinadores das copas e outros absurdos -- é bom lembrar desses acontecimentos insólitos ocorridos no ano passado, no Rio de Janeiro.
Militares de pijama comemoraram com missa o golpe de 64, democratas protestaram na porta da igreja e foram violentamente reprimidos pela tropa de choque da PM; os militares apresentaram queixa contra o cineasta Sílvio Tendler, que teria gritado "abaixo a ditadura!" na porta da igreja, e ele foi intimado a depor na delegacia. Apresentou-se em cadeira de rodas, da qual depende para se locomover e informou que no dia do protesto estava em casa, devido às suas condições de saúde.
Os ditadores e torturados que não foram punidos, por conta da lei da anistia negociada entre o governo do falecido general presidente Figueiredo e o governo eleito indiretamente de Tancredo e Sarney, na "transição pacífica" para um regime político civil, continuam levantando a bandeira da "revolução de 1964".
A oposição ao governo petista, liderada pelos tucanos, tornou-se uma direita raivosa que namora o fascismo. Sob suas asas, esbravejam o STF de Joaquim Barbosa e a velha imprensa de direita.
E o PT caminhou para o centro, tornando-se o novo partido da ordem. Como tal, assume até a defesa da repressão violenta aos movimentos populares, dos quais se originou, feita pelas tropas de choque da polícia militar, organizada pela ditadura e mantida intocada na democracia.
Ao contrário de avançar, as liberdades conquistadas nas lutas das década de 1970 e 1980 e constitucionalizadas em 1988 estão retrocedendo.
Enquanto as polícias atuais não forem substituídas por uma nova polícia da democracia, que garanta a liberdade e os direitos de manifestação, em vez de reprimir o povo, e atuem em defesa da Constituição e não contra ela, a sombra de um novo estado de exceção estará sempre presente, inclusive em acontecimentos de pequena importância e ridículos como estas copas da fifa.