Na política não há vácuo. Para tirar do poder a esquerda que caminhou para o centro, é preciso ter uma proposta e uma opção mais à esquerda, que não existe hoje.
A simples abstenção nas urnas tira votos da esquerda centrista e põe no poder a extrema direita. Como aconteceu na Espanha.
É preciso construir um novo partido de esquerda, democrático e com novas ideias, que não sejam o atual desenvolvimentismo nem o velho neoliberalismo.
Não serão os tucanos que nos darão isso, nem o PSB, nem a Rede, tampouco os confusos PSTU, PSOL etc.
As ruas sabem o que querem, mas não são profissionais como os políticos, os economistas e os empresários. Estes, no primeiro momento, ficam assustados, depois recobram o controle e dizem que o que as ruas querem, o que o povo quer é impossível, que somos sonhadores e estamos fora da realidade, que o queremos não pode ser como queremos mas está sendo feito etc. e tal.
E o povo das ruas fica confuso, se deixa convencer.
Por isso é preciso ter bandeiras claras e exigir que sejam atendidas.
E fazer a esquerda que se desviou para o centro depender do voto das ruas e se comprometer com elas.
O que veremos nos próximos meses será toda a direita, com Aécio e Globo à frente, tentar tirar proveito -- e votos -- da insatisfação popular. Mas a Globo é a favor da ditadura. E a política do Aécio mostrou ontem com balas de borracha e gás -- assim como Alkmin mostrou na semana passada e tem mostrado sempre -- o que pensa de manifestações populares.
Da Agência Carta Maior.
Saturação e projeto
A ausência de uma plataforma capaz de dar unidade e coerência a aspirações fragmentadas e avulsas pode asfixiar o que as ruas tentam dizer.
Vem da Espanha reluzente de protestos na Praça do Sol um alerta desconcertante.
Madri e Barcelona consagraram-se como o epicentro da indignação global.
Desde 15 de maio de 2011, quando o 'Democracia Já' convocou uma manifestação na Praça do Sol, até os protestos em 92 países, em 15 de outubro de 2011, passaram-se fulminantes cinco meses de ascensão linear das ruas.
A passeata original deu lugar a um acampamento formado por um mar de indignados.
A ocupação na Praça do Sol resistiria por 79 dias.
O termo 'indignado' globalizou-se.
Surgiu o 'Ocupe Wall Street’, que mirou com argúcia o alvo da indignação: o dinheiro sem pátria e a pátria rentista sem fronteira, mas detentora de governos e Estados.
Em outubro de 2011, o sentimento nascido na Praça do Sol tornou-se o novo idioma político global, compartilhado por um milhar de cidades em todos os continentes.
Mas nem por isso imune às sombras.
No momento em que as praças rugiam a insatisfação de milhares de vozes, o voto popular consagrava nas urnas o Partido Popular, de Aznar.
A cepa herdeira do franquismo obteve uma vitória esmagadora nas eleições espanholas de 20 de novembro de 2011.
A votação recebida pelo conservadorismo, que hoje esfola e sangra o povo espanhol, estendendo o desemprego a 52% de sua juventude, garantiu-lhe, ainda, maioria folgada no Parlamento.
O paradoxo do 'sol e da escuridão' não pode ser esquecido, nem minimizado pelo frescor da indignação que ecoa agora de uma dezena de capitais do país.
Hoje, ninguém é de ninguém.
Em política, como dizem, com razão, suas 'raposas', não existe vácuo.
Na Espanha, a vitória eleitoral do ultra-conservadorismo, em 2011, só foi possível porque a abstenção, sobretudo jovem, atingiu proporções epidêmicas no berço mundial dos indignados.
A íntegra.