Professor britânico que estuda a internacionalismo médico mostra por que uma ilha pobre tem um sistema de saúde melhor do que a nação mais rica do mundo, por que os médicos cubanos estão em todo o planeta e como a velha imprensa reacionária se esforça para esconder estes fatos.
Do Viomundo.
John Kirk e o Mais Médicos: "Brasil e Cuba estão fazendo uma troca sensata de produtos e serviços"
por Heloisa Villela, de Nova York
Para quem só entende a lógica capitalista, John Kirk explica: no mundo globalizado, cada país vende aquilo que faz de melhor ou que tem de excedente.
A Colômbia vende muito café, o Chile exporta frutas e Cuba hoje vende ao mundo serviços na área de saúde.
John Kirk é britânico, estudou na Espanha e é radicado no Canadá onde, há três décadas, tornou-se um dos mais respeitados professores de estudos espanhóis e latino americanos. É professor da Universidade Dalhousei.
Ele tem se dedicado a um assunto em particular: Cuba. Especialmente à política externa e ao sistema de saúde do país. Por isso se voltou para o que chama de internacionalismo médico.
Ele visita Cuba desde 1976 e se interessou pelo país porque sempre viajou muito pela América Latina.
Nas viagens, começou a encontrar mais e mais médicos cubanos por toda parte.
Há cinco anos ele escreveu o primeiro livro sobre este intercâmbio médico e está preparando o segundo. Desta vez, vai corrigir dois erros. Vai mudar de editora e de conclusão.
A University Press, da Flórida, empresa que distribui Cuban medical internationalism: origins, evolution and goals (Internacionalismo médico cubano: origens, evolução e metas) cobra mais de US$ 100 por cópia.
John Kirk desconfia que o objetivo seja dificultar ao máximo a venda.
Quanto à conclusão, expressa logo na abertura do livro, ele mudou de ideia. Ele achava, anteriormente, que o principal motivo para tanta dedicação de Havana à saúde alheia era uma forma de conquistar votos e apoio nas Nações Unidas.
Hoje, John Kirk está convencido de que o espírito humanitário, a noção de que é um dever ajudar quem precisa estão sedimentados na cultura cubana, além de fazer parte da Constituição do país.
No mundo capitalista globalizado, onde os interesses econômicos determinam as ações governamentais e vale tudo para conseguir novos negócios, até mesmo espionar governos amigos, soa irreal e ingênuo.
Mas Cuba investiu muito no programa, nos últimos 50 anos. E continua investindo.
Só que agora, depois que Raúl Castro assumiu a direção do país, houve uma mudança. Cuba passou a cobrar de quem tem, para continuar oferecendo ajuda a quem não pode pagar. Assim, governos árabes, como o do Qatar, pagam pela experiência dos médicos cubanos, enquanto o Haiti continua recebendo todo o apoio de graça.
Para John Kirk, o sucesso incontestável do programa de saúde cubano, e da diplomacia médica, é o segredo mais bem guardado da história.
Segredo, diz ele, que os meios de comunicação ocidentais fazem questão de manter guardado. Muito bem guardado. Ele conta que observou com atenção o trabalho da imprensa internacional logo após do terremoto do Haiti, em 2010.
A imprensa não falava dos médicos cubanos, que já estavam na ilha antes do terremoto e estão lá até hoje.
Uma reportagem na rede de tevê a cabo americana CNN chegou a entrevistar um médico obviamente cubano, porque o sotaque não nega, que vestia uma camisa com o retrato de Che Guevara, e foi identificado como um médico espanhol, conta John Kirk.
O pesquisador britânico entrevistou mais de 70 profissionais de saúde cubanos em Cuba e no exterior, nos últimos sete anos.
Ele está escrevendo outro livro, que deve ficar pronto em janeiro. Mas adiantou ao Viomundo alguns resultados do estudo. Diz que hoje Cuba tem um número maior de profissionais de saúde trabalhando em missões de cooperação fora do país do que todos os países do G-8 somados.
Os médicos cubanos estão dando aulas em 15 países (entre eles Etiópia, Iêmen e Gana). Foram os profissionais de Cuba que, através do programa Operação Milagre, salvaram a vista de Mario Terán, o soldado boliviano que executou Che Guevara em outubro de 1967.
A íntegra.