A "grande" imprensa brasileira informa mal e manipula os fatos, mostra o quer, como quer.
Protestos populares, para ela, são coisa de bagunceiros -- a não ser quando lhe interessa mostrar de outra forma, como os protestos da Copa, que atingiam o governo federal.
Em geral, porém, "atrapalham o trânsito" e "prejudicam os alunos", como as coberturas da greve dos professores mineiros, que atingiam o governo estadual, seu amigo.
Diante dessa manipulação antiga, que vem desde a ditadura, quando a Globo boicotou a campanha das diretas e foi porta-voz das versões oficiais do governo militar para greves operárias, os movimentos populares variam entre desconfiar e detestar a imprensa.
Daí as agressões a carros e prédios da "grande" imprensa.
No entanto, quem vai às ruas para noticiar não são os Marinhos nem os Frias nem os Mesquitas nem os Civitas, são jornalistas profissionais, trabalhadores. São eles que estão na linha de frente da "grande" imprensa e é a eles que a violência atinge, como aconteceu com o cinegrafista da Band.
Não são só os manifestantes que apelam para a violência.
Ao contrário, o Brasil tem tradição de manifestantes pacíficos e repressão violenta da polícia.
A "grande" imprensa sempre foi conivente com a violência policial, sempre a justificou, contra a ameaça de "baderna".
Nas manifestações recentes, a polícia atingiu, feriu, cegou, mutilou vários jornalistas.
Manifestantes e transeuntes foram mortos.
Indignar-se com a inaceitável morte do cinegrafista sem considerar tudo isso e sem propor soluções profundas, verdadeiras, que passam por avanços democráticos, nas liberdades, na polícia e na justiça, é pura demagogia.
Do Diário do Centro do Mundo.
A imprensa esqueceu das outras 11 vítimas fatais nas manifestações?
Mauro Donato
O misto de comoção e estardalhaço com que a morte do cinegrafista Santiago Andrade está sendo tratada na mídia é ao mesmo tempo compreensível e incômodo.
Compreensível, pois a morte do cinegrafista é brutal sob todos os ângulos e dispensa mais comentários. Todos já foram feitos.
Incômodo, pois penso que deveria partir da mídia o equilíbrio e o bom senso nesse momento de tensão.
A trinca imprensa-manifestantes-polícia que coabita as ruas desde junho não fala a mesma língua e o clima esquentou de vez.
Um vídeo gravado em frente à delegacia durante o depoimento de Fabio Raposo — o tatuador que estaria envolvido no caso –, em que um manifestante ameaça outro cinegrafista de ser “o próximo” para imediatamente receber a câmera na cabeça, demostra qual o quadro atual.
A íntegra.