A próxima eleição para o governo de Minas terá mais do que a curiosa disputa entre Pimentel e Pimenta. Pimentel não significa plantação de pimenta, explica o Aulete, que não tem registro do termo; plantação de pimenta é pimenteiral. As palavras no entanto são quase idênticas e devem ter a a mesma raiz. Também os dois políticos têm semelhanças que tornam a disputa interessante.
Ambos têm berço progressista -- Pimentel, o do PT, que apesar de ter se tornado o partido do capital por excelência, é, na origem, o partido dos trabalhadores; Pimenta, o do PSDB, quando ser tucano era sinal de mudanças para melhor.
O mais interessante no entanto são as contradições dos dois candidatos e seus fracassos políticos, que deixaram sequelas dolorosas para os belo-horizontinos e mineiros.
Lembremos: Pimenta era um político promissor quando foi eleito prefeito de Belo Horizonte, em 1988, mas tinha o olho maior do que a barriga e logo depois abandonou a prefeitura para se candidatar ao governo do Estado.
Não foi nem para o segundo turno, naquela eleição marcada por votos de protesto (ainda havia cédula) "Hélio não", uma vez que a disputa final ficou entre Hélio Garcia (eleito) e Hélio Costa (perseverante perdedor).
E Pimenta se recolheu, mudou para Brasília, limitou-se ao mandato federal e a um papel secundário no governo FHC. Muito pouco para quem esteve prestes a se tornar o que Aécio Neves se tornaria mais tarde: o rei de Minas.
Agora, mais de vinte anos depois, volta à cena, com o mesmo objetivo que não atingiu em 1990.
Se vencer, pode refazer sua trajetória e superar novamente o neto de Tancredo, como liderança tucana, em Minas e no Brasil, credenciando-se para disputar mais tarde o governo federal, com vinte anos de atraso e já idoso.
Hoje, no entanto, a marca de Pimenta é seu passo em falso em 1990, o abandono da prefeitura da capital apenas um ano e meio depois de ser eleito e sua desistência de novas disputas.
Pimenta deixou no seu lugar o hoje deputado Azeredo, o qual, ele sim, tornou-se em seguida governador. Ao tentar se reeleger, em 1998, usou o esquema de caixa dois de campanha montado por Marcos Valério e mais tarde aproveitado pelo PT. Como se sabe, os petistas foram condenados e estão presos, mas os tucanos continuam voando livres, não foram julgados e o crime está prestes a prescrever.
Apesar do forte esquema montado por Marcos Valério para receber dinheiro para sua campanha, inclusive dinheiro de estatais mineiras, Azeredo não foi eleito, porque encontrou no caminho um cacique da política mineira, Itamar Franco, assim como Pimenta tinha sido barrado, antes, por Hélio Garcia.
Governador, Itamar não quis tentar a reeleição, em 2002, e abençoou Aécio Neves, que assim pôde montar seu império mineiro. Aécio, que em 1992, tinha tomado uma surra ao tentar ser prefeito de Belo Horizonte e, como Pimenta, nem ao segundo turno foi.
Naquele ano o eleito foi Patrus, do PT, que inaugurou uma série de governos populares na capital, nos quais o eleito se beneficiou sempre da popularidade do antecessor: Célio de Castro e Pimentel.
Chegamos então ao Pimentel.
Bem diferente de Pimenta, Pimentel permaneceu quatro mandatos na Prefeitura de Belo Horizonte, primeiro como secretário, depois como vice-prefeito, por último como prefeito, em dois mandatos.
Tornou-se assim o rei de BH.
Tão poderoso que se julgou capaz de, como Pimenta, dar um passo maior do que as pernas.
Ao terminar seu mandato, em 2008, Pimentel ungiu um candidato de outro partido!
Uma coisa jamais vista na política, que deveria dar em confusão e de fato deu.
Em vez de lançar candidato próprio, o PT comandado por Pimentel, como um coronel, apoiou um nome do PSB.
O que veio depois todos sabemos. O prefeito Lacerda pôs as asinhas de fora, alijou o PT do governo, lançou-se candidato à reeleição sem o PT, obrigou o criador a enfrentar a criatura e derrotou nada mais nada menos do que Patrus, aquele que começou toda a história dos governos populares sem os quais Lacerda, um milionário obscuro na política, jamais teria chegado ao poder municipal.
O próprio Pimentel, que estaria no fundo do poço, não fosse ter ganhado o prêmio de consolação de ministro da Dilma e manter o controle do PT mineiro, teve de fazer campanha envergonhada contra aquele que ele tinha projetado como "ótima pedida", quatro anos antes.
Agora, graças ao controle do partido e ao apoio da presidente, Pimentel é o candidato da oposição ao governo de Minas.
Da mesma forma que Pimenta, pode ser eleito e tornar-se o político mais importante do Estado, virtual candidato a presidente em 2018.
Hoje, no entanto, tanto quanto Pimenta, é só um candidato cujo último passo foi a derrota, que deixou de herança uma grande lambança para Belo Horizonte.
Em outubro, os votos dos mineiros decidirão qual dos dois será reabilitado, Pimentel ou Pimenta.
Lacerda, essa figura ímpar da política mineira, pode ser o fiel da balança, uma vez que não é petista nem tucano, pertence ao PSB, que também tem pretensões eleitorais, por meio do governador de Pernambuco, Eduardo Campos.
Quem Lacerda apoiará? Será candidato?
É improvável, mas seria curioso ver Lacerda candidatar-se e sair vitorioso, deixando para trás Pimenta e Pimentel.
Aos mineiros, resta só torcer para que, Pimenta ou Pimentel, o eleito tenha aprendido com seus equívocos e se torne um governante melhor do que seus herdeiros.