Quem pensa que a politicagem começou em 2003 convém ler os trechos abaixo, extraídos de A carteira de meu tio, livro escrito em meados do século XIX por Joaquim Manuel de Macedo, mais conhecido como autor do romance A moreninha.
Eles mostram como a política brasileira mudou pouco. Aliás, se alguma coisa mudou, foi o tamanho do corpo do partido que está no poder e a consciência da sua cauda...
"- Então, perguntou-me ele, persiste ainda nas suas disposições de se envolver em política?
- Estou decidido de pedra e cal; eu cá não mudo!
- Eu cá não mudo! Principiou logo com uma asneira, quando tratava de política: meu caro compadre, se quer ser político, e chegar a ser tido na conta de estadista, e fazer fortuna com esse modo de vida, deve ser cata-vento, e ter os pés sempre prontos para quebrar os degraus, por onde subir, assim que não precisar mais deles.
- Sim, sim, estou por isso; mas também não é menos verdade que todas essas coisas se fazem, porém não se confessam. Eu hei de afirmar sempre que sou firme como um penedo, ainda que seja mole como uma pamonha.
- Bravo! Vá por aí, que faz futuro! Do que diz se conclui que marchará justamente pelo caminho do inferno, mas console-se, porque antes de chegar ao inferno há de subir por muitas grandezas humanas, e talvez mesmo que chegue a ser ministro! Olhe, não seria o primeiro.
- O compadre fala sério ou está brincando?
- Sou um roceiro ignorante e rústico, que ainda reza pela cartilha da independência: não faça caso das minhas excentricidades; tenho a mania de ser homem de bem e de acreditar que a base de toda a política deve ser a virtude; asneiras de homem da roça!
- Poesia... poesia...
- Será isso; mas vamos a saber: qual dos partidos pretende seguir, o Saquarema ou o Luzia?
- Qual é o que está de cima agora?
- Homem, eu também não sei.
- Pois hei de me informar para me alistar nas suas fileiras."