A "grande imprensa", as grandes corporações e seus lobbies de políticos não gostaram do Capitão Nascimento americano.
Do Diário do Centro do Mundo.
No Robocop humanista de José Padilha, o culpado é o sistema. De novo
Harold Von Kursk
O conceito central do Robocop de Paul Verhoeven, de 1987, era o prazer com que ele incitava o público a admirar sua ideologia neo-fascista. Criminosos impiedosos forçam a sociedade a suspender as liberdades civis em busca de justiça à moda antiga. O pistoleiro mecânico de Verhoeven, interpretado por Peter Weller, era uma espécie de Dirty Harry lobotomizado, um drone sobre duas pernas. A única coisa que faltava ao Homem de Lata era o sentido do espírito humano – Harry tinha pelo menos uma perspectiva irônica em sua missão de limpar a sociedade de seus demônios.
Não é de surpreender que Padilha tenha feito Robocop em seu début em Hollywood. É como se o Capitão Nascimento tivesse sido picado em pedaços, sobrando apenas os mais amáveis. Mas, nesse processo, Padilha conseguiu transformar a distopia de Verhoeven em uma parábola política mais esperançosa.
Alex/Gort/Robocop, assim, torna-se a face (parcialmente) humana de uma nova geração de policiais robôs destinada a limpar o mundo de cada bandido identificado pelo governo. O CEO da OmniCorp Raymond Sellars (Michael Keaton, ainda mais exagerado que Oldman ) acredita que esse novo “ser” lhe permitirá capturar o mercado dos EUA. É o casamento do mundo corporativo com o estado.
Padilha habilmente mina a narrativa fascista de Verhoeven, mostrando como, na sua visão, as pessoas são resistentes à idéia de uma força paramilitar de robôs no lugar de soldados reais lutando contra o mal. Apesar de um apresentador de TV de direita (Samuel L. Jackson) tentar convencer a população a abraçar este Admirável Mundo Novo, as rachaduras no sistema (olha ele aí) começam a crescer amplamente.
A íntegra.