segunda-feira, 24 de fevereiro de 2014

A repressão na manifestação em SP

A importância de uma cobertura confiável.
Em outros tempos, o grito seria: "Abaixo a ditadura!". A repressão policial e a tortura continuam 29 anos depois do fim da ditadura.

Do Diário do Centro do Mundo.
Na estreia da 'Tropa do Braço', a PM bateu como quis em manifestantes e jornalistas em ato contra a Copa
Mauro Donato

Tropa do Braço, tropa Ninja, tropa das Artes Marciais. Toda a preocupação para que "problemas fossem detectados e debelados sem emprego de armas" havia sido amplamente anunciada nos últimos dias. Só faltou ser batizada de tropa Paz e Amor.
No entanto, esse espírito não se fez presente no ato de ontem, dia 22, contra a Copa. Foram os velhos cassetetes, as bombas, as tonfas, as balas de borracha que imperaram novamente.
A PM afirmou que levaria seus soldados jiu-jitsu, porém a reportagem do DCM não detectou nenhum grupamento desprovido de armamento, bem como 99% estavam sem identificação.
Em pouco mais de meia hora desde a saída do 2º protesto contra a Copa na Praça da República, centro de SP, a marcha ia pela rua Xavier de Toledo quando, aos gritos de "fecha!", a polícia fechou, espancou, prendeu. Gratuitamente.
Eu apanhei. Estava na calçada da Xavier de Toledo, a caminho do Municipal, quando fui cercado.
Três PMs apareceram e começaram a me bater com o cacetete. Enquanto eu tentava escapar, apareceram mais quatro. Tomei na perna, nas costas, nos braços. Um deles deu uma voadora, mas errou o alvo. Outro chegou e me deu um chute na parte de trás da coxa, que só passaria a doer mesmo no dia seguinte.
Um soldado quis me prender. Só aliviou quando lhe mostrei a carteira de trabalho — algo que não teve resultado para cinco de meus colegas, que foram detidos. Preferi não fazer exame de corpo de delito.
Havia senhoras, muitas mulheres, e até idosos (poucos, mas havia), longe da linha de frente costumeiramente preenchida de black blocs. Livres para correr, a área ao redor virou praça de guerra novamente. Enquanto isso, manifestantes "pacíficos" e profissionais de imprensa eram espremidos.
O professor de Gestão de Políticas Públicas da USP, doutor Pablo Ortelado, que na noite anterior havia participado conjuntamente a sociólogos e integrantes de movimentos sociais de debate sobre a violência na Fesp-SP, viu o amigo e igualmente professor da USP Márcio Moretto Ribeiro ser preso. Durante a madrugada, ele já alertava: "Qualquer matéria sobre a manifestação de hoje em São Paulo que não mencione que: 1) a manifestação seguia pacífica e foi gratuitamente atacada pela polícia; 2) que os policiais estavam em número muito elevado e emboscaram a manifestação; 3) que os policiais, como de costume, estavam sem identificação; e 4) que as prisões de manifestantes foram completamente arbitrárias e abusivas, não é uma matéria jornalística. É apenas falsificação dos fatos e propaganda política. Muitos editores creem que estão sendo responsáveis ao relatar seletivamente os fatos de maneira a não incentivar novas manifestações."
Após a morte do cinegrafista Santiago Andrade no Rio de Janeiro, o discurso de que a imprensa seria tratada com cuidado foi proferido até pelo ministro José Eduardo Cardoso. O que se viu foi novamente uma bárbara retaliação em cima de repórteres, fotógrafos e cinegrafistas. Vários ficaram feridos e tiveram seus equipamentos danificados.
A íntegra.