terça-feira, 12 de março de 2013

A morte do Grilo

O melhor da imprensa no começo dos anos 70 não foi o Pasquim, foram as publicações da A&C, que eu ficava esperando chegar nas bancas e consumia avidamente: Grilo, Bondinho, Jornalivro, Ex-. A coleção do Ex- tenho ainda, as do Grilo e Bondinho mandei encadernar e nunca mais vi. Uma perda e tanto. Até hoje são publicações inovadoras. As entrevistas de Gilberto Gil e Caetano Veloso na Bondinho são documentos históricos. Foi no Jornalivro que eu li O jogador, de Dostoiévski, e Insônia, de Graciliano Ramos, literatura de primeira grandeza a preço de jornal. Ex- foi o único jornal a noticiar o assassinato do Vladimir Herzog, numa longa reportagem, daquelas para ser lida em curso de jornalismo. A ditadura apreendeu exemplares e o impediu de circular a partir de então. A editora lançou outro jornal no lugar: Mais Um, escrito com as letras da Coca-Cola, igualzinho o Ex-. Só durou um número. Quadrinhos como os do Grilo não houve antes nem depois no Brasil: Wolinski, Feiffer, Crumb, Crepax. Era uma editora com publicações excelentes que vendiam muito, mas faliu por causa da perseguição da ditadura. Eram jornalistas topetudos (Mylton Severiano foi um deles): numa reunião da Sociedade Interamericana de Imprensa, a entidade dos barões da imprensa, mandaram um representante para denunciar o jornal Estado de S. Paulo que também tentava calar o Ex-. Naquela época (1975), como agora e sempre, o Estadão defendia liberdade de imprensa para ele e censura para os adversários.

Do Observatório da Imprensa.
Memórias de um tempo que bem podia não ter existido
Por Mylton Severiano
Com A Morte do Grilo – A história da Editora A&C e do gibi proibido pela ditadura militar em 1973, Gonçalo Junior nos traz um olhar de fora e distanciado no tempo daquele momento, com detalhes e ângulos para os quais aqueles que dele participavam estavam desatentos. Enriquece o acervo do pesquisador, do historiador, do jornalista, do escritor, de quantos queiram "munição" para reconstituir as trevas e a ação dos que arriscavam a pele para, em vez de se limitar a amaldiçoá-las, acender uma vela, que eles apagavam, e acendíamos outra, e outra, e outra...
A íntegra.