Mais uma demonstração de que a imprensa não é mais a mesma. Quem quer informação agora vem à internet. O recruta Bradley Manning é um heroi contemporâneo.
Do Diário do Centro do Mundo.
New York Times e Washington Post recusaram o material que o Wikileaks publicou
Paulo Nogueira
O primeiro dia do julgamento de Bradley Manning é devastador para a imagem da mídia americana.
"Comprovado: Bradley Manning é heroi."
Foi essa a reação imediata do cineasta Michael Moore quando foi revelado que no primeiro dia de seu julgamento em corte marcial o recruta Manning admitiu oficialmente ter feito os aqueles célebres vazamentos para o Wikileaks. Entre os vazamentos o destaque foi o vídeo do helicópteto Apache a partir do qual, por engano, soldados americanos mataram civis iraquianos.
Manning aceitou dez das 22 acusações, mas negou a principal delas: ter ajudado o inimigo. É um crime passível de prisão perpétua. As acusações que ele admitiu podem lhe dar 20 anos de cadeia. Mas ainda haverá muitos movimentos. A promotoria deve insistir na tese de que o inimigo foi ajudado.
Com os vazamentos, afirmou, seu objetivo foi "estimular o debate público" entre os americanos sobre a política externa de seu país.
O objetivo foi amplamente alcançado, como se pode ver. E ultrapassado, uma vez que o debate rompeu as fronteiras americanas e ganhou o mundo.
O depoimento de Manning no primeiro dia do tardio julgamento – iniciado depois de mil dias de prisão – trouxe revelações sensacionais sobre o jornalismo que se faz hoje nas grandes corporações de mídia.
Antes de entregar o material ao Wikileaks, Manning fez o percurso clássico.
Tentou o New York Times. Ninguém o ouviu. Tentou o Washington Post. Nada. Tentou o Wikileaks. E foi feita história.
A íntegra.
Do Observatório da Imprensa.
Soldado procurou imprensa antes de vazar documentos para o WikiLeaks
Tradução e edição: Leticia Nunes. Com informações de Ed Pilkington ["Manning says he first tried to leak to Washington Post and New York Times", The Guardian, 28/2/13]
O soldado americano Bradley Manning, acusado de ser o responsável pelo maior vazamento de segredos de Estado da história dos EUA, procurou o New York Times e o Washington Post antes de repassar centenas de milhares de documentos confidenciais para o WikiLeaks quando servia como analista do serviço de inteligência em Bagdá, entre 2009 e 2010. A revelação foi feita em uma declaração de 35 páginas que Manning leu no tribunal na base militar de Fort Mead, no estado de Maryland, onde fica a sede da Agência de Segurança Nacional.
O soldado será julgado por 22 acusações. Pela primeira vez, ele se declarou culpado de 10, entre elas a de mau uso de material confidencial, mas se disse inocente da mais grave delas, a de que teria ajudado o inimigo.
Manning afirmou que, em janeiro de 2010, quando estava em Washington, entrou em contato com o Washington Post perguntando se o jornal estaria interessado em receber informações "imensamente importantes para o povo americano". Quem atendeu, segundo ele, foi uma mulher que disse ser repórter e não pareceu levá-lo a sério. O soldado procurou então o New York Times. Ligou para o ombudsman, mas caiu na secretária eletrônica. Tentou outros números no jornalão, mas também foi encaminhado para a caixa de mensagens – deixou uma mensagem com os contatos de sua conta no Skype, mas não recebeu retorno. Manning disse ainda que pensou em ir ao saite Politico, em Washington, mas o mau tempo atrapalhou seus planos.
A íntegra.