Já passamos pela revolução de 30, pela redemocratização de 46, pela ditadura militar e pela Constituição de 86, mas o Brasil continua sendo um país de partidinhos, criados e dominados por pessoas, não por ideias, não por movimentos e classes sociais. Está aí o prefeito de São Paulo criando uma nova sigla, que vem a ser a mesma que o ex-ditador e ex-presidente Getúlio Vargas criou para a direita, nos anos 40: PSD -- "partido social democrático". Sigla que viveu seu momento mais importante sob a liderança do ex-presidente Juscelino Kubitschek e que foi extinta pelo primeiro governo militar, juntamente com as demais, especialmente o PTB, partido trabalhista. Nenhuma delas vingou na redemocratização do final dos anos 70, nem as que foram ressuscitadas como o PTB (este porque era sigla de fachada, pois os antigos trabalhistas fundaram outro partido, o PDT) e o PCB. Os novos ares trouxeram principalmente o PT -- raro, senão único, partido fundado no Brasil que faz jus ao nome -- e o PSDB, além de partidos de esquerda, menores, e de direita, que minguaram. A recriação do PSD, porém, tem significado -- não o que seus fundadores pretendem, mas outro, que não gostariam de reconhecer: a falência dos partidos tradicionais da direita pós-ditadura militar. Primeiro foi o PDS (simples ordem de letras?), herdeiro da Arena, depois o PFL (também conhecido como pefelê), agora Democratas (!), e por último o PSDB. Aos poucos, eleição após eleição, a direita brasileira, empobrecida de votos, migrou para partidos à sua esquerda (ou foram os partidos que caminharam para a direita?) até ser representada pelos tucanos, que, embora neoliberais, se proclamavam o quê? Social-democratas! Ou, pomposamente: Partido da Social Democracia Brasileira -- exatamente a mesma coisa que o novo partido pretende ser. É social-democracia demais para um país só, não é não? Ainda mais se levamos em conta que o PDT se considera legítimo representante da social-democracia no Brasil. De fato, quem realiza aqui a obra que os social-democratas e socialistas fizeram na Europa, qual seja, a reforma do Estado capitalista, é o PT. Enfim, sigla no Brasil não significa nada. Basta dizer que o atual prefeito de Belo Horizonte, Márcio Lacerda, milionário e privatizante como ele só, integra o PSB -- partido socialista! O "novo" PSD é mais um partido com dono e "sem ideologia", que tem a cara de pau de se proclamar "nem de direita, nem de esquerda, nem de centro". Em outras palavras: a serviço dos ricos, em busca dos votos dos pobres.
Da Agência Carta Maior.
TSE aprova criação do PSD, que já poderá disputar eleição de 2012
Por seis votos a um, Tribunal Superior Eleitoral (TSE) decide aceitar documentos apresentados pelo Partido Social Democrático (PSD) e libera registro para a 28ª legenda brasileira. Partido, que 'não será de direita, de esquerda nem de centro', segundo cacique Gilberto Kassab, está apto a disputar eleição municipal do ano que vem.
A íntegra.