A história se move lentamente, quase sempre, e aos saltos, de tempos em tempos. No Egito e em várias partes do mundo, especialmente o Oriente, mas também alguns países europeus, a revolução foi disparada. O povo, quando se move, quer muito, quer tudo a que tem direito, quer liberdade para inventar sua vida, que é, afinal, o que o capital promete desde 1789, mas não realiza, porque a liberdade do capital exclui a liberdade dos demais. Para defender sua liberdade, o capital gasta como nunca com armas e munições, promove guerras sem parar, genocídios e chacinas, sustenta contrarrevoluções, bombardeia cidades, ocupa nações. Não é à toa que a indústria bélica é a mais pujante do mundo. O mesmo capital que sustentou ditadores posa de democrata quando os ditadores são derrubados por levantes populares, apóia políticos (neo)liberais locais e monta a "democracia representativa". É o que está acontecendo no Egito. Com o passar do tempo e a acomodação do povo, as elites tomam conta da "democracia", a polícia volta a ser instrumento para reprimir a população, a justiça só funciona para os ricos -- contrariando a lei, quando preciso -- e os "representantes do povo", eleitos periodicamente, se tornam políticos corruptos a serviço do capital.
Da Agência Carta Maior.
Os próximos passos da revolução egípcia
Eduardo Febbro, do Cairo.
A revolução da Praça Tahrir já tem o primeiro horizonte democrático aberto. Após meses de protestos e bloqueios contra a demora com que a junta militar no poder organizou os passos legais da transição democrática logo após a derrubada do presidente Hosni Mubarak, em 11 de fevereiro, o Conselho Supremo da Forças Armadas (CSFA) colocou o calendário eleitoral sobre a mesa com um processo que terá quatro etapas. A primeira foi fixada para o próximo dia 28 de novembro. Nesse momento, serão eleitos os representantes da Assembleia do Povo (Câmara baixa), dois terços dos quais virão de listas fechadas e o restante de listas abertas. A segunda etapa ocorrerá com a eleição da Shura, a Câmara Alta, no dia 29 de janeiro. Depois, ocorrerá a redação de uma nova Constituição e, até o final de 2012, as eleições presidenciais. A junta terminou por ceder à pressão da rua pela demora em tornar tangíveis as conquistas da revolução que estourou no dia 25 de janeiro deste ano. "Queriam nos anestesiar com promessas, divagações e, além disso, nos furtar a Revolução com uma agenda eleitoral totalmente inadequada para o Egito de hoje. Esta é só uma primeira greve, ainda falta muita coisa", diz Ibrahim Ahlal, um dos muitos professores que participa da greve que paralisou a educação egípcia.
A íntegra.