Estudante, 23 anos, piercing no nariz, ameaçada de morte e insultada na web, sem tempo na agenda para atender a todos os jornalistas que solicitam entrevista exclusiva, comportamento tranquilo e mente brilhante, líder do movimento estudantil chileno, protagonista dos sonhos dos jovens no mundo inteiro e dos pesadelos do presidente do Chile, enfrenta o governo, os veículos de comunicação da velha imprensa e os grandes grupos empresariais, diz que educação pública e gratuita de qualidade para todos é um direito da cidadania que o capitalismo não consegue atender. Assim é Camila Antonia Amaranta Vallejo Dowling. Diga lá, leitor: você recusaria ser liderado por ela?
Da Agência Carta Maior.
"A classe dominante não tem interesse em mudar a educação"
Christian Palma, correspondente em Santiago
Há três meses, Camila Vallejo, a carismática presidenta da Federação de Estudantes da Universidade do Chile (Fech), podia tomar um metrô tranquilamente e caminhar sem chamar a atenção mais do que qualquer outra mulher bonita chilena. Nesse tempo, os estudantes universitários e secundaristas iniciavam um movimento sem precedentes que inclui até hoje ocupações e greves nas escolas do país e diversas marchas pelas principais cidades chilenas pedindo fundamentalmente o fim do lucro no sistema educacional, mais qualidade nos conteúdos ministrados nas salas de aula e gratuidade completa na educação pública. Ela, com paciência, visitava os colégios explicando ponto por ponto as razões das reivindicações estudantis e parava para conversar com os jornalistas com calma. Foi em um desses eventos que a conheci. Usando um jeans surrado, um lenço artesanal no pescoço, um piercing no nariz e esse olhar que esconde uma das mentes políticas mais brilhantes que apareceram no Chile nos últimos anos, trocamos algumas palavras. A revolução estudantil se incendiou, os argumentos dos estudantes foram entendidos e valorizados pela cidadania e Camila Vallejo demonstrou que é muito mais do que um rosto bonito. O peso de seus argumentos em programas de televisão, a clareza de suas intervenções diante das autoridades que dobram e triplicam a idade e a capacidade inata de aglutinar as massas, converteram-a na líder mais visível deste movimento que já derrubou um ministro e obrigou o governo de direita de Sebastián Piñera a oferecer três alternativas para destravar o conflito. Mas nenhuma delas satisfez os estudantes. Tamanha foi a pressão sobre o governo, que o próprio Piñera chamou os jovens para uma conversa neste sábado no palácio de La Moneda. Um dia antes deste convite que pode marcar o início do fim da crise, Camila Vallejo, achou um espaço em sua agenda e concedeu esta entrevista exclusiva à Carta Maior, recém chegada de Brasília, onde se reuniu com seus pares brasileiros. Ela reconhece que tem tempo apenas para comer.
A íntegra.