Especial do iG lembra o impeachment do presidente Collor, vinte anos depois. O testemunho do motorista Eriberto França foi decisivo. Patriotismo é uma ideia que a burguesia usa para enganar o povo e mandar jovens para a morte, mas algumas vezes se vira contra ela. A desconcertante frase do motorista na CPI revela a diferença entre a boa-fé da gente do povo e a má-fé em que vivem os políticos. Nem por isso Roberto Jefferson se emendou: continuou fazendo das suas, como se viu na invenção do mensalão, que mais tarde ele mesmo desmentiria. (O episódio também faz justiça ao bom jornalismo: foi a apuração da revista Istoé que comprovou o esquema Collor-PC Farias e não a da revista Veja. Tem uma grande diferença entre o irmão do presidente dar entrevista em troca de uma capa bombástica e repórteres acharem um motorista desconhecido, levantarem documentos e provarem acusações.)
Do portal iG.
118 dias para a queda de Collor, os bastidores da CPI
CPI que investigou o esquema PC Farias, tesoureiro da campanha presidencial, teve até conhaque na leitura do relatório
Por Adriano Ceolin, 27/5/2012
O próprio irmão do presidente da República havia dito em alto e bom som que ele tinha conhecimento de um esquema de corrupção no governo que poderia causar a queda de Fernando Collor em menos de 72 horas. No entanto, era preciso provar. A proposta veio rápido: a criação de uma Comissão Parlamentar de Inquérito para investigar a existência do esquema comandado pelo ex-tesoureiro da campanha presidencial, o empresário Paulo César Cavalcante Farias.
(...) Apesar da entrevista bombástica de Pedro Collor, o ponto fundamental
para o avanço das investigações na CPI foi a descoberta do Fiat Elba,
pago com um cheque fantasma do esquema PC. O automóvel era dirigido por
Eriberto França, motorista do presidente.
E o caso foi apurado, justamente, por uma subcomissão coordenada pelo
senador José Paulo Bisol – que entrou na CPI por indicação do
governista PDS. Depois de conceder entrevista a IstoÉ, Eriberto foi
ouvido na comissão onde contou ter comprado a Elba do presidente.
Ao começar a depor na CPI, França foi interpelado pelo principal
deputado governista na época, Roberto Jefferson (PTB-RJ), que questionou
se ele estava fazendo tudo aquilo por patriotismo. França respondeu de
imediato: “E o senhor acha pouco?”. A frase marcou a CPI.
As declarações de França ajudaram a CPI a comprovar que o esquema PC,
que usava cheques fantamas, pagava as contas do presidente da
República e de seus familiares. "Foi o grande indício que mostrava a
ligação de PC com Collor", avalia Amin.
A íntegra.