Ano de eleição municipal deveria servir para pensar na vida que levamos na cidade e discutir melhorias. Mas não é assim no sistema representativo. Neste, o objetivo principal é manipular o eleitorado, sem resolver seus problemas, enquanto outros "problemas" são resolvidos: distribuir dinheiro para empreiteiras, distribuir verbas publicitárias paras emissoras de televisão e rádio, jornais e revistas, fazer caixa de campanha e reeleger o prefeito ou o candidato que ele apóia. Evita-se a discussão e passa-se longe das causas dos problemas. O transporte urbano, por exemplo. é caótico e vai continuar como está ou piorando, recebendo soluções paliativas. A propaganda do prefeito, no entanto, mostra o BRT, avenidas, viadutos e outras maravilhas. Metrô não interessa, porque é uma obra duradoura, um transporte eficiente, barato e confortável, que só beneficia a população, não dá dinheiro para empreiteiras, empresas de ônibus e fábricas de automóveis. Por isso não foi feito durante a ditadura militar, nem nos governos civis que vieram depois, nem é feito agora. O que interessa ao sistema é o transporte rodoviário, é o transporte individual, é as montadoras produzirem cada vez mais veículos. Mesmo o transporte por ônibus, na superfície, poderia ser eficiente, bastava ter corredores de transporte em todas as avenidas principais, com uma linha operando em cada um deles. Mas isso racionalizaria o sistema, não incentivaria as pessoas a comprar carros e mais carros, acabaria com a mamata de inúmeras empresas que financiam as campanhas e têm até senador. O BRT finge que é isso mas não é, porque não muda o sistema, é apenas mais uma variação, diante da qual os empresários esfregam as mãos, já calculando seus novos lucros. São Paulo é exemplo disso, como mostra a reportagem abaixo. Para políticos e empresários, o que interessa mesmo é o sistema ineficiente, sempre exigindo mais obras. E caro, para dar muito lucro. Cai o número de passageiros? Aumenta o preço da passagem! A solução passa por um transporte racional, que contraria os interesses dominantes, mas também por uma cidade mais racional, na qual as pessoas não tenham de se deslocar tanto para realizar suas atividades, e em cidades menores. Tudo isso é óbvio, mas requer planejamento e democracia -- efetiva, participativa, não simplesmente "representativa". E contraria os interesses imediatistas do capital.
Do blog da Raquel Rolnik.
Ônibus atraem cada vez menos passageiros
De 2006 pra cá, o ônibus foi a modalidade de transporte coletivo que menos passageiros atraiu na cidade de São Paulo. Considerando o total de viagens realizadas no transporte público, a participação dos ônibus passou de 65%, em 2006, para 58% no ano passado. A informação foi divulgada ontem em reportagem da Folha Online. No período, o número de viagens de ônibus aumentou apenas 13,3%, enquanto na CPTM este aumento foi de 63%, e no metrô, de 44%. Além do crescimento da rede de metrô e trem, o principal fator responsável por essa situação é a falta de investimentos nos corredores de ônibus. A implementação da rede planejada para São Paulo foi simplesmente interrompida e nenhum novo corredor foi construído nos últimos anos. Além disso, o sistema de troncalização – ou seja, a redução do número de ônibus dentro do corredor e sua integração com linhas alimentadoras – nunca foi completado, o que faz com que o próprio corredor, mesmo segregado, fique congestionado… de ônibus. O resultado é a baixa velocidade do sistema, o desconforto e, óbvio, uma péssima avaliação por parte dos usuários que, quando podem, preferem usar o transporte por trilhos, que, por sua vez, está superlotado. Na verdade nenhum sistema de transporte decente funciona bem só com um modal – é a integração dos vários modos que promove maior conforto e eficiência.
A íntegra.