Candidato, Lacerda disse enfaticamentre ser contra a verticalização da cidade e prometeu combater a especulação imobiliária. Prefeito, fez o contrário. Nunca houve tanta verticalização em Belo Horizonte quanto nos últimos quatro anos. E foi Lacerda quem a comandou: vendendo imóveis públicos, loteando áreas verdes, vendendo até ruas, promovendo obras "para a Copa". Não me enganou, porque desconfiei de que estava mentindo. Não acredito também que tenha enganado Pimentel e a maioria do PT que apóia sua reeleição. A questão é que Lacerda, o prefeito milionário que não mora na cidade que administra, não representa os interesses dos seus eleitores. A democracia representativa se sustenta nesta contradição óbvia: candidatos que representam os ricos (minoria) precisam dos votos dos pobres (maioria) para serem eleitos. Como têm muito dinheiro, contratam as melhores equipes, fazem programas maravilhosos, inundam a cidade de propaganda. Na campanha, prometem o que os pobres (maioria) querem e depois de eleitos fazem o que os ricos (minoria) querem. O próprio presidente Lula, num dos seus momentos de sinceridade, disse isso ("Somos eleitos pelos pobres, mas são os ricos que têm acesso aos gabinetes"). Enquanto os candidatos dependerem de empresários para financiar suas campanhas, seus governos estarão comprometidos com eles; enquanto o dinheiro for decisivo para viabilizar uma candidatura, os políticos terão rabo preso. Para ser realmente democracia, o sistema político não pode se limitar à representação e à eleição periódica. É preciso que os candidatos realmente expressem a vontade dos eleitores e que os eleitores se expressem permanentemente, em espaços que vão além das Câmaras e Assembleias, e momentos que vão além das eleições. É preciso que as promessas de campanha sejam cumpridas e que os governantes que não as cumprem sejam depostos. Não é democrático agir como Lacerda, prometendo uma coisa na eleição e fazendo outra, depois de eleito. Cobrar dele coerência na atual campanha não basta: ele já demonstrou que não é confiável. Como então reelegê-lo? É a pergunta a que os dirigentes petistas, entre os quais agora se inclui supreendentemente o ex-prefeito Patrus Ananias, não respondem.