Esta decisão do Conselho do Patrimônio de Cultura de Belo Horizonte levou
décadas para ser tomada. Carlos Drummond de Andrade, que morreu há 25
anos, protestou quando os padres da São José (e outras igrejas) passaram
a construir lojas e vender vagas de estacionamento. Que isso é uma
agressão ao ambiente, todo mundo vê. Afinal, as igrejas -- que são
construídas em terrenos públicos e não pagam impostos -- servem como
espaços civilizados pra gente se acalmar na correria da cidade. Cheias
de carros e cercadas de grades, no entanto, não dá. No projeto original da cidade, no lugar da São José estaria o Teatro
Municipal, nunca construído. Teria uma localização privilegiado, é só a
gente imaginar, mas cultura desde cedo ficou em segundo plano em BH. Dizem que o dinheiro é pra obras sociais, como se a igreja católica não tivesse uma das maiores fortunas do mundo. Seria bom saber com que dinheiro está sendo construída a nova catedral. Será que o prefeito Lacerda, que adora privatizar espaços públicos, vai concordar com a decisão do Conselho? É bom lembrar que o Mercado Distrital do Cruzeiro não foi vendido por Lacerda porque o Conselho e a comunidade resistiram.
Do Estado de Minas.
Conselho de Belo Horizonte decide pelo fim do estacionamento em área de igrejas
Paula Sarapu, 18/5/2012
O Conselho de Patrimônio da Fundação Municipal de Cultura quer acabar com o estacionamento de 140 vagas mensalistas da Igreja de São José, no Centro de BH. O argumento é que o espaço alugado interfere no conjunto arquitetônico tombado em 1991, reduz a visibilidade do templo, descaracteriza o uso original da via e compromete a circulação de pedestres. Também estão com os dias contados os estacionamentos rotativos da Igreja do Sagrado Coração de Jesus, na área hospitalar, e da Catedral da Boa Viagem, no Centro. O primeiro funciona com liminar até o fim de seu alvará em outubro. O segundo teve liminar negada pela Justiça e a interdição pode ocorrer a qualquer momento. Na catedral e na Sagrado Coração de Jesus, a administração das vagas é terceirizada. No caso da São José, da Congregação Redentorista, a arrecadação de R$ 29 mil mensais custeia a manutenção do jardim, projetos da obra social e segurança 24 horas. A diretora de Patrimônio da Fundação Municipal de Cultura, Michele
Arroyo, entende que o estacionamento tomou grandes proporções e obstruiu a passagem da escadaria principal ao adro da igreja, por exemplo. "Não diria que o estacionamento enfeia, mas agrega elementos a uma área de contemplação harmônica e estilística que interferem na leitura de bens culturais. O tombamento não é só do templo, mas da área jardinada", explica. Michele diz que a discussão sobre o estacionamento nas três igrejas se arrasta desde 2000, acompanhada pelo Ministério Público. "A área de circulação da São José foi suprimida e o espaço para embarque e desembarque virou uma pista toda ocupada por carros. Os veículos circulam sem sinalização, não há acessibilidade nem travessia para pedestre", justifica.
A íntegra.