quarta-feira, 9 de maio de 2012

Civita é o Murdoch brasileiro?

A revista CartaCapital, na capa da sua edição desta semana, diz que sim, O Globo, em editorial de ontem, diz que não. O diretor de redação da CC, Mino Carta, conhece bem Veja: foi ele que a criou, no final dos anos 60, e a comandou nos seus melhores tempos, quando a revista fazia jornalismo. O Globo também sabe do que está falando: o que vale para a família Civita, vale para a família Marinho. A velha imprensa brasileira é comandada por meia dúzia de famílias há décadas -- no caso do Estadão, há mais de século. Elas publicam os principais jornais e revistas, controlam as redes de televisão e rádio. São grandes empresários e têm interesses comerciais e posições políticas bem definidas. Não custa repetir: todas apoiaram o golpe militar de 1964; a Folha emprestou carros para os órgãos de repressão transportarem presos políticos clandestinamente; a Globo prosperou e monopolizou a televisão brasileira apoiando os governos militares; o Estadão censurou a imprensa alternativa negando-se a imprimir jornais nas suas gráficas, na mesma época em que ele protestava contra a censura da ditadura à "grande" imprensa; a Globo participou do escândalo Proconsult, que tentou impedir a eleição de Brizola governador do Rio fraudando votos; a Globo boicotou a campanha Diretas já!; a Globo manipulou o último debate entre Lula e Collor a favor do último; Globo, Veja, Folha e Estadão apoiaram as campanhas de Collor, FHC e Serra. Essa velha imprensa não publica noticiário isento. Nunca publicou. Sempre atuou como um filtro entre a informação e os cidadãos. Sempre usou a informação para manipular a opinião pública a favor dos seus interesses e dos políticos amigos. Que Veja fabrica matérias de capas manipulando informações a serviço dos seus interesses também não é novidade para nenhum jornalista brasileiro e nem para o leitor atento que acompanhou, por exemplo, a série de reportagens do jornalista Luís Nassif sobre a revista (Nassif é outro que conhece Veja por dentro). A novidade é que sua máscara caiu com o advento da internet, que criou uma nova imprensa -- independente, democrática, colaborativa, livre para expressar todos os pontos de vista (e por isso mesmo alvo de ameaças com o projeto de lei do deputado tucano Eduardo Azeredo). A novidade é que os governos Lula-Dilma não têm rabo preso com essa velha imprensa porque não forem eleitos com apoio dela, ao contrário, foram eleitos apesar da campanha sistemática que ela fez e faz contra eles. A novidade é que o senador e o bicheiro que serviam de fontes para Veja fabricar suas capaz foram pegos pela Polícia Federal. A novidade é que o esquema Cachoeira-DEMóstenes-Veja foi desmascarado. A novidade é que Veja será investigada pela CPMI do Cachoeira. Por isso a velha imprensa, demonstrando o mesmo corporativismo que ela tanto condena nos trabalhadores e nos políticos, se une para contra-atacar. Desmascarar Veja é enfraquecer toda essa velha imprensa, que usa de expedientes semelhantes e defende interesses comerciais e políticos comuns. Afinal, como disse a presidente da Associação Nacional de Jornais, Maria Judith Brito, há dois anos, a imprensa é o partido da oposição. O partido da oposição, o partido da direita, o partido do capital, o partido protofascista, o partido golpista. Nada disso é novo. O que é novo é que temos há quase dez anos pela primeira vez na história do País um governo reformista -- não um revolucionário, mas um governo social-democrata, como países da Europa têm há muito tempo. O que é novo é que temos, na internet, pela primeira vez na história, uma imprensa democrática, independente, na qual cabem todas as opiniões e todas as informações, fora do controle dos grandes grupos econômicos e das corporações que controlam a comunicação e manipulam a opinião pública. É essa nova imprensa que O Globo chama de "chapa branca". Ao sair em defesa de Veja, O Globo também tira a máscara. Ainda é tempo dos leitores de Veja e espectadores do Jornal Nacional de boa fé perceberem isso. Abaixo, matéria da agência Comunique-se, especializada em comunicação, que geralmente adota o ponto de vista da "grande" imprensa, mas tem a virtude de noticiar os fatos. Neste caso, é de se perguntar por que não cita também o conteúdo da revista CartaCapital.

Do Comunique-se.
O Globo diz que imprensa chapa branca faz campanha organizada contra a Veja
Anderson Scardoelli
Em editorial publicado nesta terça-feira, 8, o jornal O Globo critica o que chama de "setores radicais do PT". Sem citar nomes de veículos de comunicação, o jornal afirma que blogs e parte da mídia são da banda "chapa branca" e têm como um dos principais objetivos fazer campanha contra as denúncias produzidas pela revista Veja. "Roberto Civita não é Rupert Murdoch" é o título do editorial, que segue como resposta a matéria de capa dessa semana da revista Carta Capital, que traz a imagem do presidente da Editora Abril, empresa responsável pela publicação da Veja, com o título "Nosso Murdoch", o comparado ao magnata australiano que comanda jornais na Inglaterra que produziam escutas ilegais de políticos, artistas e até da família real britânica. O material foi reproduzido pela versão online de O Globo e apareceu na capa do saite da Veja.
A íntegra.