E o povo.
Antecipada para o meio-dia, a pajelança de transmissão do cargo de governador, ontem, na Praça da Liberdade, foi poupada da chuva que vinha caindo diariamente em Belo Horizonte nos últimos dias.
A pajelança é que não poupou os belo-horizontinos.
A região da praça foi toda isolada para o trânsito de veículos e -- perplexidade! -- pedestres.
O povo foi mantido distante do Palácio!
Distante do novo governador, do ex-governador e do governador anterior.
Exceto por meia dúzia de populares segurando bandeiras do PP (Partido Progressista), mas que conversavam, distraídos, sentados no chão, só convidados engravatados -- dentro do palácio, atrás das grades que a ditadura instalou para afastar o povo -- ouviram ao vivo o senador Aécio Neves discursar, da mesma sacada onde trinta anos antes seu avô falou para uma multidão esperançosa.
Não havia povo na praça.
Grades móveis cercaram toda as ruas e avenidas ao redor da praça.
A própria praça foi isolada, não se podia entrar nem sair dela, a não ser engravatados autorizados.
Helicópteros sobrevoavam o local.
Camburões da PM estavam estacionados sobre passeios até na Avenida João Pinheiro, lá embaixo, quase na Praça Afonso Arinos.
Policiais com cachorros intimidavam quem passava.
Tudo isso para quê?
Aécio, Anastasia, Pinto Coelho falaram para a praça vazia, da qual o povo foi mantido distante.
Para que uma solenidade pública sem povo?
Por que não realizá-la no Centro Administrativo? Lá pelo menos as autoridades teriam os funcionários públicos como plateia. Será que eles também faltariam, mesmo estando exilados no "vetor norte"?
E a população de Belo Horizonte seria deixada em paz na já normalmente congestionada tarde de sexta-feira.
Quanto gastou o governo para montar a pajelança cheia de pompa e vazia de povo?
Em que mundo vivem nossos governantes?
Que cobertura deu a "grande" imprensa mineira sobre isso?
Tocou em alguma dessas perguntas?
Em que mundo vive também a "grande" imprensa?
De quebra, a pajelança cancelou a visitação ao Palácio da Liberdade neste sábado: a estrutura gigantesca que ocupou os gramados onde o povo não pode pisar estava sendo desmontada.
E estoques de grades continuavam empilhados em muitos passeios ao redor da praça, 24 horas depois do "evento".