Serra do Gandarela salva, mineroduto adiado.
De um lado, as mineradoras -- exportadoras, multinacionais, milionárias.
Do outro, os mineiros -- o povo, a população, os moradores, os trabalhadores, a gente comum, todo mundo que vive em Minas Gerais e depende da água, da terra, da natureza.
No meio, o governo -- e os últimos governos mineiros estiveram sempre do lado das mineradoras, no caso da Serra do Gandarela e no caso do mineroduto que está rasgando e destruindo o estado de norte a sul.
E a imprensa? Bem, a imprensa é essa coisa esquisita, que normalmente só se interessa por escândalos, em geral está com o governo (= verbas publicitárias), mas de vez em quando abraça causas populares, misteriosamente, se não toda ao menos um veículo ou outro, como nestes casos.
Mas a campanha mesmo foi feita na internet e nas ruas, nas estradas, na mata.
De qualquer forma, as reportagens mostram do que a imprensa é capaz, quando quer.
Destruir a Gandarela seria um crime inacreditável, mas temos assistido a tantos crimes inacreditáveis que fica mais inacreditável e ganha um valor grandioso o que fez a Prefeitura de Rio Acima.
Na democracia representativa, em que nós votamos de quatro em quatro anos e depois vamos para casa, enquanto os eleitos fazem o que querem, predominam sempre os interesses dos ricos, que têm acesso aos gabinetes, que pagam os melhores advogados, que bancam as campanhas dos políticos, que compram juízes e funcionários quando preciso. Decisões que contrariam essa gente, como esta, são raras e só acontecem com mobilização popular permanente.
Com apoio da nova imprensa, da internet. E quando possível apoio também da velha imprensa.
O mineroduto foi adiado, mas precisa ser definitivamente interrompido e seus danos reparados.
Quanto à Gandarela, não é a vitória final e nem mesmo tudo que precisa ser protegido.
Do jornal Hoje em Dia.
Rio Acima tomba a Serra do Gandarela e barra projeto Apolo
Bruno Porto
O primeiro semestre de 2014 já esteve na agenda da Vale como a data de início de produção do projeto Apolo, orçado em R$ 4 bilhões, para uma mina com capacidade de 24 milhões de toneladas de minério de ferro ao ano, em uma área que abrange cinco municípios mineiros. No entanto, além de persistir a indefinição sobre a criação ou não do Parque Nacional da Serra do Gandarela, em análise pelo governo federal, este mês a prefeitura de Rio Acima revogou a Carta de Conformidade – uma anuência obrigatória para que o empreendimento seja licenciado.
O documento havia sido emitido em 2009 e atestava que o projeto se enquadrava na legislação municipal. Uma audiência pública para tratar do projeto chegou a ocorrer no município. Além de Rio Acima, Santa Bárbara, Caeté, Raposos e Nova Lima também estão ma área de abrangência do projeto. "A área responsável pelo patrimônio histórico do município deve finalizar em 30 dias o processo de tombamento definitivo da parte da Serra do Gandarela dentro de Rio Acima. Com o tombamento, não cabe mais atividade mineradora nessa área”, afirmou o prefeito de Rio Acima, Antônio César Pires de Miranda Júnior (PR).
Ele descartou a possibilidade de a cidade deixar de arrecadar mais ou gerar mais empregos com o projeto da Vale. “No caso de Rio Acima, o projeto previa apenas a parte ruim, como as barragens de rejeito. Não haveria aumento de arrecadação ou de empregos. Estamos defendendo o que é melhor para o município, que são as nascentes de rios que abastecem a cidade”, disse.
Em nota, a Vale informou que ainda não foi notificada oficialmente. “A Vale não recebeu nenhum comunicado oficial sobre o assunto, nem por parte da prefeitura municipal, nem dos órgãos ambientais competentes. Sobre Apolo, o projeto continua aguardando licenciamento ambiental”, diz a nota.
Situada entre as serras do Caraça e da Piedade, a Serra do Gandarela faz parte da Serra do Espinhaço, declarada reserva da Biosfera pela Unesco. O Gandarela também está inserido no Quadrilátero Ferrífero, onde estima-se que existam reservas de 5 bilhões de metros cúbicos de água, sendo 4 bilhões associados às formações ferríferas. Somente a Serra do Gandarela é responsável pelo abastecimento hídrico de 40% da Região Metropolitana de Belo Horizonte.
A íntegra.
Do jornal O Tempo.