Belo Horizonte não tem mais horário de descanso.
A administração Lacerda aboliu isso. Quando não ignora as
infrações à lei, dá ela mesma o exemplo.
Às cinco horas da manhã começa o barulho:
caminhões de construção civil, caminhões de caçamba, homens
gritando, alarmes de ré tocando e outras máquinas... O dia ainda
está escuro e a barulheira começa, sem qualquer pudor. Isto não
significa que tenha havido silêncio até esse horário: durante toda
a noite alarmes dispararam, buzinas foram tocadas, motos aceleraram,
grandes ônibus fizeram rugir seus motores, carrões passaram com seus sons potentes. Às nove da noite, quando o trânsito acalma,
máquinas da prefeitura iniciam obras, lambretas de baiano abrem buracos no asfalto. À meia-noite passa o caminhão
do lixo, com seu motor barulhento e seus lixeiros gritando.
Torcedores que estão sempre comemorando a derrota do time adversário
gritam nas janelas e circulam tocando buzinas e hinos.
Respeito é uma palavra que desapareceu da vida urbana.
Nunca é demais lembrar que o prefeito -- o alcaide,
o xerife -- não mora na cidade, mora em um condomínio em outro
município, num recanto sossegado, bucólico, silencioso, cercado,
protegido das violências que ele impõe aos cidadãos que governa.