Jornalista blogueira dá lição de jornalismo.
Pelo menos mais dois blogueiros que entrevistaram Lula, do Escrevinhador e do Tijolaço, estão sendo "investigados" pelo jornal dos Marinhos.
As respostas de Conceição Lemes são esclarecedoras -- para nós, leitores, não para O Globo.
Sei como funciona: o repórter deve ser inocente ou mau caráter, para se prestar a isso (se não for, terá problemas; talvez -- o que é raríssimo na profissão -- denuncie empresa e chefes por deturparem o que apurou).
O que vale no entanto é a edição, que fará com que a matéria diga o que o jornal quer, independentemente das respostas.
Por isso o procedimento da jornalista do Viomundo, de divulgar suas respostas no blog.
Como fez a Petrobrás, ao enfrentar a primeira campanha de difamação da estatal, ainda no governo Lula, criando o blog Fatos e Dados.
É uma forma de defesa.
Não impede a distorção, mas a desmascara.
Por isso tenho dúvida se o melhor não é ignorar.
Gostaria de me enganar, mas acho que todo o currículo de Conceição Lemes será reduzido a alguma coisa do tipo "sem experiência em cobertura política", na matéria global.
Do blog Viomundo.
Conceição Lemes, 33 anos de estrada: Resposta em público a O Globo
por Conceição Lemes
Nessa
segunda-feira 13, uma repórter de O Globo enviou-nos um e-mail: "Estou
fazendo uma matéria sobre a entrevista que o ex-presidente Lula concedeu
a blogueiros na semana passada. Gostaria de conversar contigo por
telefone".
Pedi que enviasse as perguntas por e-mail. Hoje, às 12h27 elas foram
encaminhadas:
Qual a sua formação acadêmica?
Qual a sua atuação profissional antes do blog? Já cobriu política por outros veículos?
Você é filiada a algum partido político?
Como você definiria os "blogueiros progressistas"? Existe uma linha política?
Como você foi chamada para a entrevista? Recebeu alguma ajuda de custo do instituto?
O
que você achou da seleção de blogueiros para a entrevista? Incluiria,
por exemplo, representantes da mídia ninja ou blogueiros "de oposição",
como Reinaldo Azevedo?
Qual foi o ponto mais relevante da entrevista para você?
O instituto arcou com os seus custos de deslocamento?
Por que você acredita ter sido escolhida para a entrevista?
O que você acha do movimento "Volta Lula"?
Qual nota você daria ao governo Dilma? Por quê?
Nada contra a repórter. Embora não a conheça, respeito-a profissionalmente como colega.
Já a empresa para a qual trabalha, não merece a nossa consideração.
Com
essas perguntas aos blogueiros, O Globo parece estar com saudades da
ditadura, quando apresentava como verdadeira a versão dos órgãos de
repressão. Exemplo disso foi a da prisão, tortura e assassinato de Raul Amaro Nin Ferreira, em 1971, no Rio de Janeiro.
Com essas perguntas, O Globo parece querer promover uma caça aos blogueiros progressistas. Um macartismo à brasileira.
O
marcartismo, como todos sabem, consistiu num movimento que vigorou nos
EUA do final da década de 1940 até meados da década de 1950.
Caracterizou-se por intensa patrulha anticomunista, perseguição política
e desrespeito aos direitos civis.
O interrogatório emblemático daqueles tempos nos EUA: Mr. Willis: Well, are you now, or have you ever been, a member of the Communist Party? (Bem, você é agora ou já foi membro do Partido Comunista?)
A
sensação com as perguntas de O Globo é que voltamos à ditadura. Agora, a
ditadura midiática das Organizações Globo. É como estivéssemos sendo
colocados numa sala de interrogatório.
Afinal, qual o objetivo de saber se pertencemos a algum partido político?
Será que O Globo faria essa pergunta aos jornalistas de direita, travestidos de neutros, que rezam pela sua cartilha?
E se fôssemos nós, blogueiros progressistas, que fizéssemos essas perguntas aos jornalistas de O Globo?
Imediatamente, seríamos tachados de antidemocratas, cerceadores da liberdade de expressão, chavistas e outros mantras do gênero.
Como
um grupo empresarial que cresceu graças aos bons serviços prestados à
ditadura civil-militar tem moral de questionar ideologicamente os
blogueiros que participaram da entrevista coletiva?
Liberdade de imprensa e de expressão vale só para direita e para a esquerda, não?
Como
uma empresa que tem no seu histórico o colaboracionismo com a ditadura,
o caso pró-Consult, o debate editado do Collor vs Lula, ter sido contra
a campanha Pelas Diretas, pode se arvorar em ditar normas de bom
Jornalismo e ética?
Como uma empresa que deve R$ 900 milhões ao fisco tem moral para questionar outros brasileiros?
Como
um grupo empresarial que recebe, disparadamente, a maior fatia da
publicidade do governo federal pode criticar os poucos blogs que recebem
alguma propaganda governamental?
O Viomundo, repetimos, não
aceita propaganda dos governos federal, estaduais e municipais. É uma
opção nossa. Mas respeitamos quem recebe. É um direito.
No
Viomundo, não temos nada a esconder. Só não admitimos que as
Organizações Globo, incluindo O Globo, com todo o seu histórico, se
arvorem no direito de fiscalizar a blogosfera.
Por isso, eu
Conceição Lemes, que representei o Viomundo na coletiva, não respondi a O
Globo. Preferi responder aos nossos milhares de leitores. Diretamente.
E em público.
Seguem as perguntas de O Globo e as minhas respostas.
A íntegra.