PML é o jornalista que melhor acompanha o calvário de José Dirceu.
Sim, calvário, porque, transformado em maior criminoso da República, não por um crime provado, mas por um crime que "deveria conhecer", por ser chefe do suposto criminoso, o que o tornou um condenado sem precedentes na história, Dirceu é um prisioneiro a quem a justiça nega os direitos mais elementares e a sociedade lava as mãos.
Se direitos básicos são negados a ele, por que não serão negados também a qualquer cidadão, inclusive aqueles que se rejubilam com seu martírio?
A justiça brasileira inaugurou com o julgamento do "mensalão" uma fase de tribunal de exceção. É o Estado policial em plena (?) democracia, que chega ao absurdo de pretender quebrar o sigilo dos telefones do Planalto. Que tal quebrar também o dos ministros do STF, de todo o judiciário, de todos os políticos de direita e dos jornalistas protofascistas?
Quando isso aconteceu, ficamos sabendo que um diretor da maior revista brasileira tinha negócios com um criminoso.
Mas não deu em nada, a rigorosa justiça ignorou o fato.
Dos blogs da revista Istoé.
Dirceu: homem-teste
Esforço de Joaquim Barbosa para impedir Dirceu de exercer um direito saiu do plano racional -- e isso é mais perigoso do que parece
Paulo Moreira Leite
É inacreditável que, no Brasil de 2014, se tente levar a sério – por um minuto – o pedido de investigar todas ligações telefônicas entre o Planalto, o Supremo, o Congresso e a Papuda entre 6 e 16 de janeiro.
A rigor, o pedido de investigação telefônica tem um aspecto terrorista, como já disse aqui.
Implica em invadir poderes -- monitorar ligações telefônicas é saber quem conversou com quem mesmo sem acessar o conteúdo da conversa -- e isso o ministério público não tem condições de fazer antes que o STF autorize a abertura de um processo contra a presidente da República.
O que queremos? Brincar de golpe?
Criar o clima para uma afronta aos poderes que emanam do povo?
Quem leva a sério o pedido de monitorar telefones do Planalto, com base numa denúncia anonima, sem data, nem hora nem lugar conhecido -- o que permite perguntar até se tenha ocorrido -- nos ajuda a pensar numa hipótese de ficção científica. Estão querendo um atalho para atingir a presidente? Assim, com a desculpa de que é preciso apurar um depoimento secreto?
Nem é possível fingir que é possível levar a sério um pedido desses.
Por isso não é tão preocupante que uma procuradora do DF tenha feito tenha assinado um pedido desses. É folclórico, digno dos anais da anti-democracia e da judicialização.
O preocupante é a demora de Joaquim Barbosa em repelir o pedido. Rodrigo Janot, o PGR, já descartou a solicitação. Mas Joaquim permanece mudo.
O que ele pretende?
O que acha que falta esclarecer?
Honestamente, cabe perguntar: qual é a dúvida?
Indo para o terreno prático. Estamos falando de uma área por onde circulam milhares de pessoas, que mantêm conversas telefônicas longas, curtas, instantâneas ou intermináveis com chefes, assessores, amigos, maridos, motoristas, namoradas, amantes...sem falar na frota de taxi, no entregador de pizza e no passeador de cachorro...
Monitorar quem ligou para quem?
Imagine. Num dia qualquer entre 6 e 16 de janeiro de 2016 uma jovem assessora do Senado, que trabalha de minissaia e namora um musculoso agente penitenciário na Papuda, resolve encontrá-lo para tomar um sorvete. Mas o rapaz não aparece. Ela liga para o celular do amor de sua vida. O namorado atende dentro de um ônibus que, naquele momento, se encontra parado no sinal vermelho em frente ao Planalto.
Três meses depois, aparece o grampo:
-- Alô, Zé Dirceu na linha? Onde você está? Aqui é a Maça Dourada. Aquela, de 68. Lembra, na Maria Antônia.... A gente não tinha marcado um encontro, 50 anos depois? Nossa turma tinha essa mania, lembra?
Está na cara que nada se pretende descobrir com uma investigação desse tipo. O que se pretende é ganhar tempo, como se faz desde 16 de novembro, quando Dirceu e outros prisioneiros chegaram a Papuda. Com ajuda dos meios de comunicação mais reacionários, os comentaristas mais inescrupulosos, pretende-se criar uma ambiente de reação contra o exercício de um direito típico dos regimes democráticos. Aguarda-se por uma comoção que impeça a saída de Dirceu. Você entendeu, né...
A íntegra.