Meia dúzia de três ou quatro famílias e empresas controlam jornais, revistas, rádios e televisões no Brasil -- na América Latina em geral é assim. Isto acontece desde que a imprensa passou a ter importância, isto é, há um século, mas nas últimas décadas ganhou maior importância, não só por causa da influência da tevê, mas porque os militares deram uma trégua nas suas intervenções. Com isso, os veículos de comunicação ocuparam seu espaço e se tornaram o verdadeiro partido da direita. Apoiam governos de direita que lhes dão fartas verbas publicitárias e outras facilidades -- o governo Aécio-Anastasia é um exemplo -- e atacam governos de esquerda dos quais discordam -- o governo Lula é um exemplo. Enfim, manipulam a opinião pública, como o episódio do senador DEMóstenes demonstrou de forma exemplar: a principal fonte da revista Veja contra o governo do PT era um político ligado ao crime organizado. Nem por isso a revista mudou seu comportamento, nem assim foi processada, nem assim outros veículos que a seguiam deixaram de se pautar por ela, o que demonstra que não se trata de ignorância, mas de má fé. Democratizar as concessões de televisão e rádio, democratizar a distribuição das verbas publicitárias estatais, julgar processos de calúnia e difamação rapidamente, garantir direito de resposta e criar um código de ética democrático são necessidades urgentes para que a democracia deixe de ser mero discurso e se torne real. A única defesa atual contra o monopólio da informação é a internet, que precisa ser mantida como nasceu: livre.
Da Agência Carta Maior.
"Empresários se apropriaram da liberdade de imprensa para ter liberdade de empresa"
Ana Maria Passos, direto de Quito
O debate sobre a democratização da comunicação, que era uma bandeira dos anos 80, voltou à tona na América Latina com a crise do modelo neoliberal e a conquista de governos progressistas em vários países. Em quase todo o continente está sendo discutido, ou já foi aprovado, um novo marco regulatório em busca de mais pluralidade e igualdade de acesso à comunicação.
Este tema atravessou os debates entre mais de trezentos representantes de rádios comunitárias, pesquisadores, autoridades e estudantes que participaram do Encontro Latino-Americano de Comunicação Popular e Bem Viver, de quarta a sexta-feira, em Quito, no Equador, para comemorar os quarenta anos da Associação Latino-Americana de Educação Radiofônica, a Aler.
"Doze anos atrás no continente não estávamos falando desse assunto, estava em nossas preocupações sempre, mas não havia essa possibilidade. Creio que se abriu uma brecha e que essa brecha já não tem volta atrás", diz a secretaria executiva da Aler, Nelsy Lizarazo. Na opinião de Lizarazo, as condições políticas são mais favoráveis agora, com o fortalecimento da democracia, apesar de algumas ameaças, como os golpes de estado em Honduras e no Paraguai, mais recentemente. "Temos mais possibilidades de participar, de mobilizar e de entrar em diálogo. Também creio que os movimentos sociais e as organizações estão vivendo um novo tempo, reinventando-se, adaptando-se ao momento e em direção ao futuro, então creio que esse é um fator que também joga muito a favor de posicionar a comunicação como um direito".
A íntegra.