Como disse o candidato do PSOL a prefeito do Rio, este é um bom debate. Ao ler a notícia, me lembrei das placas afixadas em fachadas de Belo Horizonte. Elas dizem "Estabelecimento monitorado pela Polícia Militar de Minas Gerais" ou "Residência monitorada pela Polícia Militar de Minas Gerais". Têm a marca e as cores da PMMG, são, portanto, placas oficiais. Também têm a sigla de alguma associação de moradores. Este tipo de iniciativa, que não é nova, leva a várias perguntas e a uma reflexão séria sobre segurança pública na sociedade neoliberal. Ao dizer que determinada residência ou estabelecimento comercial é "monitorado", a PM está também dizendo, implicitamente, que os demais, que não possuem tal placa, não o são. Por monitorado entende-se "protegido", do contrário a placa não teria sentido. Significa que a PM não protege toda a cidade, todos os moradores, todos os cidadãos, somente aqueles "monitorados"? Pode-se alegar que não é assim, que todos estão sob a proteção da PM, mas os monitorados recebem uma proteção "especial". Como assim? Existe então segurança pública e segurança pública "especial"? Sabemos que essa proteção especial advém de "parcerias" e "convênios" entre a PM e associações de moradores: estas ajudam a PM comprando-lhes carros e equipamentos ou dando-lhes manutenção, para que ela possa atuar melhor. Esta prática tem duas implicações: em primeiro lugar, os moradores que já pagam impostos para que o governo mantenha a PM pagam mais uma vez pelo mesmo serviço; em segundo lugar, recebem atendimento privilegiado àquele prestado aos moradores que não contribuem com a PM. A simples existência dessa prática já é descriminatória e intimidadora, pois o morador que "não contribui" está sujeito à ação de bandidos dos quais os "monitorados pela PM" serão protegidos. O ladrão, obviamente, vai preferir assaltar uma residência ou um estabelecimento que não está "monitorado" e diante de um crime, ao acionar a PM, o morador poderá ouvir desta ou da associações de moradores: "Eu avisei, mas você não quis pagar..." Ou, mais sutilmente, poderá ouvir mais uma vez a sugestão para se "associar" e "contribuir". A máfia é uma organização criminosa que vende proteção: quem contribui com ela, recebe proteção, quem não contribui, está "sujeito" à bandidagem. Qualquer um que já viu um filme sobre a máfia americana sabe que na sequência à recusa em receber sua proteção, o comerciante é atacado, para que sinta na pele que não fez uma boa escolha. Qual a diferença entre a máfia e esse procedimento de "monitoramento" pela PM? A PM é uma organização estatal de combate ao crime, não é uma organização mafiosa. No entanto, ao criar essa rede de "monitoramento", está seguindo os mesmos procedimentos da máfia.
Do UOL, no Rio
Em debate Folha Rede TV!, Freixo diz que relação de milícias e Prefeitura do Rio é "profunda"
O candidato do PSOL à Prefeitura do Rio de Janeiro, Marcelo Freixo (PSOL), voltou a ligar o atual prefeito e candidato à reeleição, Eduardo Paes (PMDB), ao crescimento das milícias. Segundo ele, ao falar do transporte alternativo, a relação do governo municipal com os grupos paramilitares "é profunda".
"No transporte alternativo, a relação das milícias com a prefeitura é profunda. Esse é o principal braço econômico da milícia e a prefeitura tem responsabilidade sobre esse crescimento", afirmou no segundo bloco do debate Folha/Rede TV!, nesta quarta-feira (5).
"Esse é um bom debate. As milícias não cresceram sozinhas. Todo miliciano é dono de centro social, e muitos tem parceria com a Prefeitura do Rio. A milícia é uma máfia: eles estabelecem o domínio territorial com um projeto de ocupar o espaço eleitoral. Eles ajudaram a eleger muita gente, é uma máfia com projeto de poder. Basta ver que eles têm bases na Câmara", disse.
A íntegra.